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| - Era noite hibernal; girava dentro Da casa do guerreiro o riso, a dança, E reflexos de luz, e sons, e vozes, E deleite, e prazer: e fora a chuva, A escuridão, a tempestade, e o vento, Rugindo solto, indómito e terrível Entre o negror do céu e o horror da terra. Na geral confusão os céus e a terra Horrenda simpatia alimentavam. A flor purpúrea que matiza o prado, Se o vento da manhã lhe entorna o cálix, Perde aroma talvez; porém mais belo Colorido lhe vem do sol nos raios, As fagueiras feições daquele rosto Assim foram também; não foi do tempo Fatal o perpassar às faces lindas.
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abstract
| - Era noite hibernal; girava dentro Da casa do guerreiro o riso, a dança, E reflexos de luz, e sons, e vozes, E deleite, e prazer: e fora a chuva, A escuridão, a tempestade, e o vento, Rugindo solto, indómito e terrível Entre o negror do céu e o horror da terra. Na geral confusão os céus e a terra Horrenda simpatia alimentavam. Ferve dentro o prazer, reina o sorriso, E fora a tiritar, fria, medonha, Marcha a vingança pressurosa e torva: Traz na destra o punhal, no peito a raiva, Nas faces palidez, nos olhos morte. O infanção extremoso enchia rasa A taça de licor mimoso e velho, Da usança ao brinde convidando a todos Em honra da esposada: — À noiva! exclama E a porta range e cede, e franca e livre Introduz o tufão, e um vulto assoma Altivo e colossal. — Em honra, brada, Do esposo deslembrado! — e a taça empunha Mas antes que o licor chegasse aos lábios, Desmaiada e por terra jaz a esposa, E a destra do infanção maneja o ferro, Por que tão grande afronta lave o sangue, Pouco, bem pouco para injúria tanta. Debalde o fez, que lhe golfeja o sangue D'ampla ferida no sinistro lado, E ao pé da esposa o assassino surge Co'o sangrento punhal na destra alçado. A flor purpúrea que matiza o prado, Se o vento da manhã lhe entorna o cálix, Perde aroma talvez; porém mais belo Colorido lhe vem do sol nos raios, As fagueiras feições daquele rosto Assim foram também; não foi do tempo Fatal o perpassar às faces lindas. Nota-lhe ele as feições, nota-lhe os lábios, Os curtos lábios que lhe deram vida, Longa vida de amor em longos beijos, Qual jamais não provou; e as iras todas Dos zelos vingadores descansaram No peito de sofrer cansado e cheio, Cheio qual na praia fica a esponja, Quando a vaga do mar passou sobre ela. Num relance fugiu, minaz no vulto: Como o raio que luz um breve instante, Sobre a terra baixou, deixando a morte.
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