rdfs:comment
| - A aurora vem despontando, Não tarda o sol a raiar: Cantam aves, - a natura Já começa a respirar. Bem mansa na branca areia Onda queixosa murmura, Bem mansa aragem fagueira Entre a folhagem sussurra. É hora cheia de encantos, E hora cheia de amor; A relva brilha enfeitada, Mais fresca se mostra a flor. Esbelta joga a fragata, Como um corcel a nitrir; Suspensa a amarra tem presa, Suspensa, que vai partir. Em demanda da fragata, Leve barco vem vogando; Nele um velho cujas faces Mudo choro está cortando. Quem era o velho tão nobre, Que chorava, Por assim deixar seus lares, Que deixava?
|
abstract
| - A aurora vem despontando, Não tarda o sol a raiar: Cantam aves, - a natura Já começa a respirar. Bem mansa na branca areia Onda queixosa murmura, Bem mansa aragem fagueira Entre a folhagem sussurra. É hora cheia de encantos, E hora cheia de amor; A relva brilha enfeitada, Mais fresca se mostra a flor. Esbelta joga a fragata, Como um corcel a nitrir; Suspensa a amarra tem presa, Suspensa, que vai partir. Em demanda da fragata, Leve barco vem vogando; Nele um velho cujas faces Mudo choro está cortando. Quem era o velho tão nobre, Que chorava, Por assim deixar seus lares, Que deixava? "Ancião, por que te ausentas? Corres tu trás de ventura? Louco! a morte já vem perto. Tens aberta a sepultura. "Louco velho, já não sentes Bater frouxo o coração? . Oh! que o sente! - É lei d'exílio A que o leva em tal sazão! "Não ver mais a cara pátria, Não ver mais o que deixava, Não ver nem filhos, nem filhas, Nem o casal, que habitava!... "Oh! que é má pena de morte, A pena de proscrição; Traz dores que martirizam, Negra dor de coração! "Pobre velho! - longe, longe Vás sustento mendigar; Tens de sofrer novas dores, Novos males que penar. "Não t'há de valer a idade, Nem a dor tamanho e nobre; Tens de tragar vis afrontas, - Insultos que sofre o pobre! "Nada acharás no degredo, Que fale dos filhos teus; Ninguém sente a dor do pobre,,, Só te fica a mão de Deus. "O sol, que além vês raiando Entre nuvens de carmim, Noutros climas, noutras terras Não verás raiar assim. "Não verás a rocha erguida, Onde t'ias assentar; Nem o som bem conhecido Do teu sino hás de escutar. "Há de cair sobre as ondas O pranto do teu sofrer, E nesse abismo salgado, Salgado se há de perder." Já chegou junto à fragata, Já na escada de apoiou, Já com voz intercortada Último adeus soluçou. Canta o nauta, e solta as velas Ao vento que o vai guiar; E a fragata mui veleira Vai fugindo sobre o mar. E o velho sempre em silêncio A calva testa dobrou, E pranto mais abundante O rosto senil cortou. Inda se vê branca a vela Do navio, que partiu; Mais além - inda se avista! Mais além - já se sumiu!
|