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  • A Minha Irmã
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  • Entregaram-te enfim à paz do cemitério, Deixaram-te na cova o corpo delicado, E a funda escuridão enorme do Mistério Para sempre engoliu-te, ó lírio desfolhado! Agora, na umidade aspérrima do solo, Terás para abrigar-te o derradeiro sono - Em vez do olhar materno e do materno colo - A tristeza glacial de um lúgubre abandono. E lá - ir-te-ão roçar a alvíssima epiderme, E, roendo-te a carne, apodrecer-te os ossos, O contato nojento e túrbido do verme, E as negras podridões dos charcos e dos poços.
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  • A Minha Irmã
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Autor
  • Vicente de Carvalho
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  • Entregaram-te enfim à paz do cemitério, Deixaram-te na cova o corpo delicado, E a funda escuridão enorme do Mistério Para sempre engoliu-te, ó lírio desfolhado! Agora, na umidade aspérrima do solo, Terás para abrigar-te o derradeiro sono - Em vez do olhar materno e do materno colo - A tristeza glacial de um lúgubre abandono. E lá - ir-te-ão roçar a alvíssima epiderme, E, roendo-te a carne, apodrecer-te os ossos, O contato nojento e túrbido do verme, E as negras podridões dos charcos e dos poços. E enquanto adormecida à sombra desolada Dos ciprestes, tua carne apodrentar-se, as feras Hão de sorver a luz ao cálix da alvorada E hão aspirar o aroma às frescas primaveras. E enquanto na funérea escuridão dormires, A terra há de sorrir nas expansões da flora, Hão de enfaixar o céu as cores do arco-íris, E o sol há de fulgir nas púrpuras da aurora. E tu... não hás de mais colher pelos caminhos A rubra flor aberta à madrugada; e à ave Não mais imitarão a música dos ninhos As doces vibrações de tua voz suave! Amanhã tu serás o lodo de um monturo, Uma caveira a rir um riso de idiota; E surgirás no limo, e hás de ser verme impuro, E virás na erva ruim que a sepultura brota... Embora! Terás sempre a alvura do alabastro À vista espiritual de uma ilusão materna... Ao olhar de tua mãe tu serás sempre um astro Esculpido no azul de uma saudade eterna!
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