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  • Um canto do século
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  • Debalde nos meus sonhos de ventura Tento alentar minha esperança morta E volto-me ao porvir: A minha alma só canta a sepultura E nem última ilusão beija e conforta Meu suarento dormir... Debalde! que exauriu-me o desalento: A flor que aos lábios meus um anjo dera Mirrou na solidão... Do meu inverno pelo céu nevoento Não se levantará nem primavera, Nem raio de verão! Invejo as flores que murchando morrem, E as aves que desmaiam-se cantando E expiram sem sofrer... As minhas veias inda ardentes correm... E na febre da vida agonizando Eu me sinto morrer!
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  • Um canto do século
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notas
  • .
Autor
  • Álvares de Azevedo
abstract
  • Debalde nos meus sonhos de ventura Tento alentar minha esperança morta E volto-me ao porvir: A minha alma só canta a sepultura E nem última ilusão beija e conforta Meu suarento dormir... Debalde! que exauriu-me o desalento: A flor que aos lábios meus um anjo dera Mirrou na solidão... Do meu inverno pelo céu nevoento Não se levantará nem primavera, Nem raio de verão! Invejo as flores que murchando morrem, E as aves que desmaiam-se cantando E expiram sem sofrer... As minhas veias inda ardentes correm... E na febre da vida agonizando Eu me sinto morrer! Tenho febre! meu cérebro transborda... Eu morrerei mancebo, inda sonhando Da esperança o fulgor... Oh! cantemos ainda: a última corda Inda palpita... morrerei cantando O meu hino de amor! Meu sonho foi a glória dos valentes, De um nome de guerreiro a eternidade Nos hinos seculares, Foi nas praças, de sangue ainda quentes, Desdobrar o pendão da liberdade Nas frontes populares! Meu amor foi a verde laranjeira, Cheia de sombra, à noite abrindo as flores, Melhor que ao meio-dia, A várzea longa... a lua forasteira Que pálida, como eu, sonhando amores, De névoa se cobria. Meu amor foi o sol que madrugava, O canto matinal dos passarinhos E a rosa predileta... Fui um louco, meu Deus! quando tentava Descorado e febril manchar no vinho, Meus louros de poeta! Meu amor foi o sonho dos poetas — O belo, o gênio, de um porvir liberto A sagrada utopia!... E, à noite, pranteei como os profetas, Dei lágrimas de sangue no deserto Dos povos à agonia!... Meu amor!?... foi a mãe que me alentava, Que viveu, esperou por minha vida E pranteia por mim... E a sombra solitária que eu sonhava Lânguida como vibração perdida De roto bandolim... E agora o único amor!... o amor eterno, Que no fundo do peito aqui murmura E acende os sonhos meus, Que lança algum luar no meu inverno, Que minha vida no penar apura, — É o amor de meu Deus! É só no eflúvio desse amor imenso Que a alma derrama as emoções cativas Em suspiros sem dor... E no vapor do consagrado incenso Que as sombras da esperança redivivas Nos beijam o palor... Eu vaguei pela vida sem conforto, Esperei minha amante noite e dia E o ideal não veio... Farto de vida, breve serei morto... Nem poderei ao menos na agonia Descansar-lhe no seio... Passei como Don Juan entre as donzelas, Suspirei as canções mais doloridas E ninguém me escutou... Oh! nunca à virgem flor das faces belas Sorvi o mel, nas longas despedidas... Meu Deus! ninguém me amou! Vivi na solidão, odeio o mundo... E no orgulho embucei meu rosto pálido Como um astro nublado... Ri-me da vida — lupanar imundo, Onde se volve o libertino esquálido Na treva... profanado Quantos hei visto desbotarem frios, Manchados de embriaguez da orgia em meio Nas infâmias do vício! E quantos morreram inda sombrios, Sem remorso dos negros devaneios... Sentindo o precipício! Quanta alma pura... e virgem menestrel, Que adormeceu no tremedal sem fundo, No lodo se manchou! Que liras estaladas no bordel! E que poetas que perdeu o mundo Em Bocage e Marlowe! Morrer! ali na sombra, na taverna, A alma que em si continha um canto aéreo No peito solitário! Sublime como a nota obscura, eterna, Que o bronze vibra em noites de mistério No escuro campanário! O meus amigos, deve ser terrível Sobre as tábuas imundas, inda ebrioso, Na solidão morrer! Sentir as sombras dessa noite horrível Surgirem dentre o leito pavoroso... Sem um Deus para crer! Sentir que a alma, desbotado lírio, Dum mundo ignoto vagará chorando Na treva mais escura... E o cadáver sem lágrimas, nem círio, Na calçada da rua, desbotando, Não terá sepultura... Perdoa-lhes, meu Deus! o sol da vida Nas artérias inflama o sangue em lava E o cérebro varia... O século na vaga enfurecida Mergulha a geração que se acordava... E nuta de agonia. São tristes deste século os destinos!... Seiva mortal as flores que despontam Infecta em seu abrir... E o cadafalso e a voz dos Girondinos Não falam mais na glória e não apontam A aurora do porvir... Fora belo talvez, em pé, de novo, Como Byron, surgir, ou na tormenta O homem de Waterloo! Com sua idéia iluminar um povo, Como o trovão da nuvem que rebenta E o raio derramou... Fora belo talvez sentir no crânio A alma de Goethe e resumir na fibra Milton, Homero e Dante, Sonhar-se, num delírio momentâneo, A alma da criação e o som que vibra A terra palpitante... Mas ah! o viajor nos cemitérios Nessas nuas caveiras não escuta Vossas almas errantes... Do estandarte medonho nos impérios A morte, leviana prostituta, Não distingue os amantes!... Eu, pobre sonhador! eu, terra inculta Onde não fecundou-se uma semente, Convosco dormirei... E dentre nós a multidão estulta Não vos distinguirá a fronte ardente Do crânio que animei... Ó morte! a que mistério me destinas? Esse átomo de luz, que inda me alenta, Quando o corpo morrer, Voltará amanhã!... aziagas sinas!... À terra numa face macilenta Esperar e sofrer? Meu Deus! antes, meu Deus! que uma outra vida, Com teu braço eternal meu ser esmaga E minh'alma aniquila: A estrela de verão no céu perdida Também, às vezes, seu alento apaga Numa noite tranqüila!...
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