rdfs:comment
| - Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas... E quem vive de amor não tem pobreza. Não invejo ninguém, nem ouço a raiva Nas cavernas do peito, sufocante, Quando, à noite, na treva em mim se entornam Os reflexos do baile fascinante. Namoro e sou feliz nos meus amores, Sou garboso e rapaz... Uma criada Abrasada de amor por um soneto, Já um beijo me deu subindo a escada... Oito dias lá vão que ando cismando Na donzela que ali defronte mora... Ela ao ver-me sorri tão docemente! Desconfio que a moça me namora...
|
abstract
| - Ando roto, sem bolsos nem dinheiro; Mas tenho na viola uma riqueza: Canto à lua de noite serenatas... E quem vive de amor não tem pobreza. Não invejo ninguém, nem ouço a raiva Nas cavernas do peito, sufocante, Quando, à noite, na treva em mim se entornam Os reflexos do baile fascinante. Namoro e sou feliz nos meus amores, Sou garboso e rapaz... Uma criada Abrasada de amor por um soneto, Já um beijo me deu subindo a escada... Oito dias lá vão que ando cismando Na donzela que ali defronte mora... Ela ao ver-me sorri tão docemente! Desconfio que a moça me namora... Tenho por meu palácio as longas ruas, Passeio a gosto e durmo sem temores... Quando bebo, sou rei como um poeta, E o vinho faz sonhar com os amores. O degrau das igrejas é meu trono, Minha pátria é o vento que respiro, Minha mãe é a lua macilenta E a preguiça a mulher por quem suspiro. Escrevo na parede as minhas rimas, De painéis a carvão adorno a rua... Como as aves do céu e as flores puras Abro meu peito ao sol e durmo à lua. Sinto-me um coração de lazzaroni, Sou filho do calor, odeio o frio, Não creio no diabo nem nos santos... Rezo a Nossa Senhora e sou vadio! Ora, se por aí alguma bela Bem dourada e amante da preguiça, Quiser a nívea mão unir à minha Há de achar-me na Sé, domingo, à missa.
|