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  • Delírio
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  • A noite quando durmo, esclarecendo As trevas do meu sono, Uma etérea visão vem assentar-se Junto ao meu leito aflito! Anjo ou mulher? não sei. - Ah! se não fosse Um qual véu transparente, Como que a alma pura ali se pinta Ao través do semblante, Eu a crera mulher... - E tentas, louco, Recordar o passado, Transformando o prazer, que desfrutaste, Em lentas agonias?!
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  • Delírio
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notas
  • Publicado no livro Primeiros Cantos .
Autor
  • Gonçalves Dias
abstract
  • A noite quando durmo, esclarecendo As trevas do meu sono, Uma etérea visão vem assentar-se Junto ao meu leito aflito! Anjo ou mulher? não sei. - Ah! se não fosse Um qual véu transparente, Como que a alma pura ali se pinta Ao través do semblante, Eu a crera mulher... - E tentas, louco, Recordar o passado, Transformando o prazer, que desfrutaste, Em lentas agonias?! Visão, fatal visão, por que derramas Sobre o meu rosto pálido A luz de um longo olhar, que amor exprime E pede compaixão? Por que teu coração exala uns fundos, Magoados suspiros, Que eu não escuto, mas que vejo e sinto Nos teus lábios morrer? Por que esse gesto e mórbida postura De macerado espírito, Que vive entre aflições, que já nem sabe Desfrutar um prazer? Tu falas! tu que dizes? este acento, Esta voz melindrosa, Noutros tempos ouvi, porém mais leda; Era um hino d'amor. A voz, que escuto, é magoada e triste, - Harmonia celeste, Que à noite vem nas asas do silêncio Umedecer as faces Do que enxerga outra vida além das nuvens. Esta voz não é sua; É acorde talvez d'harpa celeste, Caído sobre a terra! Balbucias uns sons, que eu mal percebo, Doridos, compassados, Fracos, mais fracos; - lágrimas despontam Nos teus olhos brilhantes... Choras! tu choras!... Para mim teus braços Por força irresistível Estendem-se, procuram-me; procuro-te Em delírio afanoso. Fatídico poder entre nós ambos Ergueu alta barreira; Ele te enlaça e prende... mal resistes... Cedes enfim. . . acordo! Acordo do meu sonho tormentoso, E choro o meu sonhar! E fecho os olhos, e de novo intento O sonho reatar. Embalde! porque a vida me tem preso; E eu sou escravo seu! Acordado ou dormindo, é triste a vida Dês que o amor se perdeu. Há contudo prazer em nos lembrarmos Da passada ventura, Como o que educa flores vicejantes Em triste sepultura.
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