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| - Vosso nome e poder seja louvado! Graças à criatura jubilosa Ao saber vosso renda sublimado! Do reino vosso a paz venha ditosa! Que vão de havê-la o empenho nos seria, Se não vier da vossa mão piedosa. Como a vós a vontade se humilia Dos vossos anjos, entoando hosana, Façam assim os homens cada dia! A substância nos dai quotidiana Hoje: sem ela em áspero deserto Se atrasa quem por ir além se afana! E como a quem nos faz mal descoberto Damos perdão, nos perdoai clemente, Indi?nos sendo nós, Senhor, por certo. Oh! não deixeis cair a defidente Virtude nossa em tentação do imigo! Livrai-nos dele, em nos pungir ardente! Não mais somos, Senhor, nesse perigo, Em que precisa esta oração nos seja; Mas não os que hão mister na terra abrigo. — Ao céu rogando que ao seu bem proveja E ao nosso, as almas sob o peso andavam, Como o que oprime a quem sonhando esteja. Com desigual gravame se arrastavam Ofegantes no círculo primeiro, E do pecado as névoas expurgavam, Se em bem nosso com zelo verdadeiro, Oram, como em seu prol fará no mundo Quem tem no bem querer seu peito useiro? Ajudemo-las, pois, vestígio imundo A lavar, por que leves, puras sejam, Do céu se alando ao brilho sem segundo. Ah! compaixão, justiça vos consigam Presto alívio, e possais, o vôo erguendo, Ir até onde os desejos vos instigam! Valei-nos a vereda nos dizendo Mais curta ou a que é menos escarpada, Mais de um caminho a se ascender havendo. Ao companheiro meu assaz pesada É a carne de Adam, que inda o reveste: Por mais que esforce, o afana esta jornada. — A voz, que respondeu ao Mestre a este Dizer, não sei a que alma pertencia Por indício qualquer, que o manifeste: — Vinde à direita em nossa companhia Pela encosta, e vereis o passo estreito, Que uma pessoa viva subiria. Se este penedo não tolhesse o jeito, A cerviz orgulhosa me domando E obrigando a juntar o rosto ao peito, Deste homem para a face, atento olhando, (Não sei quem é) talvez o conhecera, E assim me fora compassivo e brando. Toscano fui, ilustre pai tivera. Guilherme Aldobrandeschi se chamava: O nome seu algum de vós soubera? Tanta arrogância a glória me inspirava Do meu solar e os feitos valorosos, Que a nossa mãe comum não mais pensava, Olhos volvendo a todos desdenhosos. Perdi-me assim; os atos meus em Siena Foram em Campagnatico famosos. Chamei-me Umberto; da soberba a pena A mim não coube só: de igual desgraça Vem a causa que aos meus todos condena. Este fardo, que os passos me embaraça Mereço, por cumprir-se a lei divina: Vivo o não fiz, é justo que ora o faça. — Enquanto, ouvindo, a fronte se me inclina, Uma das almas (não a que falava) Sob o peso se torce, que a amofina. E viu-me e, conhecendo-me, chamava, Os olhos seus fitando esbaforida Em mim, que, recurvado a acompanhava. — Oderisi não foste — eu disse — em vida, Honra de Agubbio, honra daquela arte Que iluminar Paris ora apelida? — — Tornou-me: — Hoje o pincel (cumpre informar-te) De Franco de Bolonha mais agrada: A honra é toda sua, minha em parte. Por mim não fora em vida proclamada Esta verdade, quando esta alma ardia Na ambição de primar nessa arte amada. Aqui de tal soberba o mal se expia; Staria alhures; mas a Deus eu pude Mostrar que de pecar me arrependia. Quanto a vaidade o peito humano ilude! Dessa flor como esvai-se a formosura, Se não seguir-se um séc?lo inculto e rude! Cimabue cuidou ter na pintura A liça dominado: mas vencido Ficou: a glória Giotto fez-lhe escura. Assim de estilo na arte cede um Guido, A palma a outro: agora é bem provável Seja de ambos o mestre já nascido. Rumor mundano é como vento instável Que a direção varia de repente: Conforme o lado, o nome tem mudável. De ti que fama ficará manente, Se da velhice cais no extremo passo, Ou se findas na infância inconsciente, De hoje a mil anos, tempo mais escasso, Da eternidade em face, que um momento Ante a esfera a mais tarda lá no espaço? Quem me precede e vai assim tão lento Na Toscana entre todos foi famoso: Apenas salvo está do esquecimento. Em Siena, que há regido poderoso, Quando perdeu-se a raiva florentina. Soberba então, objeto hoje asqueroso. A fama vossa iguala-se à bonina, Que flore e morre: o sol, por quem nascera Na terra a prostra e a cor cresta à mofina. — Respondi-lhe: — O dizer teu em mim gera Saudável humildade e o orgulho mata. Esse, que apontas, conta-me quem era. — De Provenzan Salvani — diz — se trata: Aqui stá, porque Siena ele cuidara Ter nas mãos — presunção de alma insensata! Caminha assim curvado, e nunca pára Dês que a vida perdeu eis o castigo De quem tanto à soberba se entregara! — — Se o que demora até final perigo A penitência — eu disse — e errado corre, Subir não pode e aqui não acha abrigo, Se uma oração piedosa o não socorre, Durante prazo igual ao da existência, Como ao martírio Provenzan concorre? — — Quando era — torna — no auge da influência, Sobre a praça de Siena, suplicando, Ter ante o povo humilde continência, De um amigo o resgate procurando, Que era por Carlos em prisão detido, Tremeu angustiado e miserando. Não mais: não sou, de obscuro, compreendido, Mas te há de ser em breve isto explicado Por filhos dessa terra em que hás nascido. — Por tão bom feito o ingresso lhe foi dado.
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