abstract
| - Que coisas portentosas nele encontro! Eu vejo a pobre fundação de Roma; Vejo-a queimar Cartago; Vejo que as gentes doma; E vejo o seu estrago. Lá floresce o poder do Assírio Povo; Aqui os Medos crescem, E os perde um braço novo. Então me diz a Deusa: "E que pretendes? "Todas estas medalhas ver agora? "Ah! não, não sejas louco! "Espaço de anos fora "Para isso ainda pouco; "Deixa estranhos sucessos, vem comigo; "Verás quanto inda deve "Acontecer contigo." Levou-me aonde estava a minha história, Que toda me explicou com modo, e arte. "Tirei-te libras de ouro", Me diz, "e quero dar-te "Todo aquele tesouro. "Não suspira por bens um peito nobre? Severo lhe respondo, "Vivo afeito a ser pobre." Aqui me enruga a Deusa irada a testa, E fica sem falar um breve espaço. "Alegra, alegra o rosto", Prossegue, "ali te faço "Restituir o posto." Respondo em ar de mofa, e tom sereno: "Conheço-te, Fortuna, "Posso morrer pequeno." "Aqui te dou, me diz, a tua amada." Então me banho todo de alegria. "Cuidei, me torna a cega, "Que essa alma não queria "Nem esta mesma entrega." "É esse o bem, respondo, que me move, "Mas este bem é santo, "Vem só da mão de Jove." Queria mais falar; eu insofrido Desta maneira rompo os seus acentos: "Basta, Fortuna, basta, "Estes breves momentos "Lá noutras coisas gasta; "Da minha sorte nada mais contemplo." E, chamando Marília, Suspiro, e deixo o Templo.
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