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| - Ficando só com o mais velho dos irmãos, o enfermo ainda pediu um pouco de água, e contou dificilmente a sua história, parando de frase em frase. - Ah! Meu menino! Estou vendo que não tenho muitos minutos de vida! Eu ... já vinha... tão doente! - Para onde ia? - Ia a Vila Nova consultar um médico. Saí de Jaguarí à noite, porque tinha confiança no cavalo, e conheço bem estes caminhos. Mas, não sei como, rolei da sela... creio que tive uma vertigem... e vim parar aqui... Ai!... e a minha gente, que não sabe o que me aconteceu! - Não fale mais, que isso lhe faz mal! - pediu Carlos. - Diga.
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| - Ficando só com o mais velho dos irmãos, o enfermo ainda pediu um pouco de água, e contou dificilmente a sua história, parando de frase em frase. - Ah! Meu menino! Estou vendo que não tenho muitos minutos de vida! Eu ... já vinha... tão doente! - Para onde ia? - Ia a Vila Nova consultar um médico. Saí de Jaguarí à noite, porque tinha confiança no cavalo, e conheço bem estes caminhos. Mas, não sei como, rolei da sela... creio que tive uma vertigem... e vim parar aqui... Ai!... e a minha gente, que não sabe o que me aconteceu! - Sossegue! - disse Carlos - o meu companheiro já foi prevenir sua família, e é impossível que ela não mande recursos para socorrê-lo! - Manda... manda, com certeza! - falou o velho, com a voz cada vez mais cansada - no meu sítio... há bastantes trabalhadores... nós somos remediados... Mas... creio que os socorros... vão chegar tarde... - Não! Sossegue! Não fale tanto assim, que se cansa inutilmente... O senhor está tão fraco! - É que perdi muito sangue... devo ter... as costelas partidas! Acontecer uma desgraça como esta... a um homem velho... e doente, como eu!... - Não fale mais, que isso lhe faz mal! - pediu Carlos. - Não! - insistiu o enfermo - sei que vou morrer... e quero dizer-lhe uma cousa... - Diga. - Olhe! Meta a mão... aqui, no bolso direito das minhas calças... Carlos obedeceu, e encontrou um maço de dinheiro. - Guarde... esse dinheiro, meu menino... Se eu morrer, antes de chegarem os socorros, pode... ficar com ele... É seu! - Não diga isso! - acudiu o menino. - O senhor não há de morrer. Guardarei o seu dinheiro, para entregá-lo ao senhor, quando chegarmos à vila, ou à sua família. - Não! Não!... é seu!... guarde-o... - insistia o velho. - Pois sim! Pois sim! - disse Carlos, para não o contrariar... - Mas sossegue! Não fale mais! Sossegue! - O meu sossego... é a cova! - gemeu o homem. - Também, nesta idade, já é... tempo... de morrer... trabalhei muito, meu menino! Felizmente... deixo a minha gente amparada, e filhos e netos já criados... e encaminhados... na vida... É tempo de... A voz ia diminuindo mais e mais a ponto de parecer penas um sopro. Carlos passou o braço por baixo da cabeça do ferido, e levantou-a, derramando sobre ela mais um pouco de água. O velho fechou os olhos, e não falou mais. Carlos achava que o tempo custava extraordinariamente a passar. E os companheiros que não chegavam... Felizmente, ouviu-se um tropel de cavalos. Era o socorro esperado que chegava. Categoria:Literatura brasileira Categoria:Literatura infantil Categoria:Olavo Bilac
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