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| - No céu brilhante do poente em fogo Com auréola ardente o sol dormia, Do mar doirado nas vermelhas ondas Purpúreo se escondia. Como da noite o bafo sobre as águas Que o reflexo da tarde incendiava, Só a idéia de Deus e do infinito No oceano boiava! Como é doce viver nas longas praias Nestas ondas e sol e ventania! Como ao triste cismar encanto aéreo Nas sombras preludia! O painel luminoso do horizonte Como as cândidas sombras alumia Dos fantasmas de amor que nós amamos Na ventura de um dia! Como voltam gemendo e nebulosas, Brancas as roupas, desmaiado o seio, Inda uma vez a murmurar nos sonhos As palavras do enleio!... Aqui nas praias, onde o mar rebenta E a escuma no morrer os seios rola, Virei sentar-me no silêncio puro Que o meu peito consola! Sonharei... lá enquanto, no crepúsculo, Como um globo de fogo o sol se abisma E o céu lampeja no clarão medonho De negro cataclisma... Enquanto a ventania se levanta E no ocidente o arrebol se ateia No cinábrio do empíreo derramando A nuvem que roxeia... Hora solene das idéias santas Que embala o sonhador nas fantasias, Quando a taça do amor embebe os lábios Do anjo das utopias! Oceano de Deus! Que moribundo, A cantiga do nauta mais sentida Tão triste suspirou nas tuas ondas, Como um adeus à vida? Que nau cheia de glória e d'esperanças, Floreando ao vento a rúbida bandeira, Na luz do incêndio rebentou bramindo Na vaga sobranceira? Por que ao sol da manhã e ao ar da noite Essa triste canção, eterna, escura, Como um treno de sombra e de agonia, Nos teus lábios murmura? É vermelho de sangue o céu da noite, Que na luz do crepúsculo se banha: Que planeta do céu do roto seio Golfeja luz tamanha? Que mundo em fogo foi bater correndo Ao peito de outro mundo; — e uma torrente De medonho clarão rasgou no éter E jorra sangue ardente? Onde as nuvens do céu voam dormindo, Que doirada mansão de aves divinas Num véu purpúreo se enlutou rolando Ao vento das ruínas?
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