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| - As setas mais aguçadas, Como se em rocha batessem, Dão no peito seu, e descem Todas quebradas ao chão. Só as graças de Marília Podem vencer um tão duro, Tão isento coração. A fortuna desta empresa Consiste em armar-se o laço, Sem que sinta ser o braço, Que lho prepara, de Amor: Que ele vive como as aves, Que já deixaram as penas No visco do caçador. Na força deste conselho O raivoso Deus sossega, E à tropa a honra entrega De o fazer executar. Todos pretendem ganhá-la; Batem as asas ligeiros, E vão as armas buscar.
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abstract
| - As setas mais aguçadas, Como se em rocha batessem, Dão no peito seu, e descem Todas quebradas ao chão. Só as graças de Marília Podem vencer um tão duro, Tão isento coração. A fortuna desta empresa Consiste em armar-se o laço, Sem que sinta ser o braço, Que lho prepara, de Amor: Que ele vive como as aves, Que já deixaram as penas No visco do caçador. Na força deste conselho O raivoso Deus sossega, E à tropa a honra entrega De o fazer executar. Todos pretendem ganhá-la; Batem as asas ligeiros, E vão as armas buscar. Os primeiros se ocultaram Da Deusa nos olhos belos: Qual se enlaçou nos cabelos, Qual às faces se prendeu. Um amorinho cansado Caiu dos lábios ao seio, E nos peitos se escondeu. Outro Gênio mais astuto Este novo ardil alcança, Muda-se numa criança De divino parecer. Esconde as asas, e a venda; Esconde as setas, e quanto Pode dá-lo a conhecer. Ela que vê um menino Todo de graças coberto, Tão risonho, e tão esperto Ali sozinho brincar, A ele endireita os passos; Finge Amor ter medo, e a Deusa Mais que empenha em lhe pegar. Ela corria chamando; Ele fugia, e chorava: Assim foram onde estava O descuidado Pastor. Este, mal viu a beleza, E o gentil menino, entende A malícia do traidor. Põe as mãos sobre os ouvidos, Cerra os olhos, e constante Não quer ver o seu semblante, Não o quer ouvir falar. Qual Ulisses noutra idade Para iludir as Sereias Mandou tambores tocar. Cupido, que a empresa via, Julga o intento frustrado, E de raiva transportado O corpo na chão lançou. Traçou a língua nos dentes; Meteu as unhas no rosto, E os cabelos arrancou. O Gênio, que se escondia Entre os peitos da Pastora, Ergueu a cabeça fora, E o sucesso conheceu. Deixa o sossego em que estava, E vai ligeiro meter-se No peito do bom Dirceu. Apenas do brando peito Lhe tocou a neve fria, Com o calor, que trazia, Lhe abrasou o coração. Dá o Pastor um suspiro, Abre os seus olhos, e solta Do apertado ouvido a mão. Logo que viram os Gênios Ao triste Pastor disposto Para ver o lindo rosto, Para as palavras ouvir, Cada um as armas toma, Cada um com elas busca Seu terno peito ferir. Com os cabelos da Deusa Lhe forma um Cupido laços, Que lhe seguram os braços, Como se fossem grilhões. O Pastor já não resiste; Antes beija satisfeito As suas doces prisões.
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