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  • Paz em Deus
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  • A fonte que nasceu em solo árido Se um dia murmurou, morreu no outro; Mas a que vem dos montes, que o céo tocam, Descendo lentamente e sem ruido, Té que brota entre as flores da campina, Essa não morre com a luz de um dia... Fonte de puras aguas abundantes, Traz do céo sua origem. Lá se esconde, Entre nuvens, o foco que a alimenta: Eterna, como o céo d'onde partira, E serena, como elle, a paz e a vida, Como elle, tem no seio e d'elle manam. Assim d'aquelle amor. Constante e puro, Que ardor ou calma ou sol pode seccal-o? Que pó da terra conspurcar-lhe o brilho?
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  • Paz em Deus
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Autor
  • Antero de Quental
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  • A fonte que nasceu em solo árido Se um dia murmurou, morreu no outro; Mas a que vem dos montes, que o céo tocam, Descendo lentamente e sem ruido, Té que brota entre as flores da campina, Essa não morre com a luz de um dia... Fonte de puras aguas abundantes, Traz do céo sua origem. Lá se esconde, Entre nuvens, o foco que a alimenta: Eterna, como o céo d'onde partira, E serena, como elle, a paz e a vida, Como elle, tem no seio e d'elle manam. Assim d'aquelle amor. Constante e puro, Que ardor ou calma ou sol pode seccal-o? Que pó da terra conspurcar-lhe o brilho? A maldade dos homens não te mancha, Oh minha paz, oh minha pomba candida! Na terra o caçador te aponta a flecha, E o tiro parte em vão. Como tocar-te, Se tão alto voaste, e o dardo apenas Mediu a meia altura que levavas? A flecha cae na terra... ao céo tu foges! Vae pomba immaculada! irei comtigo Abrigar-me tambem no seio eterno, Quando um dia o Senhor julgar que é finda A missão que me deu de aqui servil-o. Aqui fica-me a esp'rança que me alente, Fica a luz que me guia, o Amor, a crença. E foi Deus quem me deu o meu thesouro, Como á ave que vôa deu a penna, Que a libra pelo espaço; e ao olho morto Do ancião, a luz que aponta melhor mundo. Na assembléa dos homens, se um, olhando-me Disser — «Aquelle é rei» — irei prostrar-me Diante do Senhor, abrindo o espirito Á voz que dentro d'elle Deus murmura; E Deus vendo-me puro na consciencia Dirá — «Ergue-te em paz: não és culpado» — ! Se sentir dentro d'alma alguma f'rida Vertendo sangue e fel, em dor extrema, Buscarei no Senhor o meu alivio: E o Senhor, pondo um dedo sobre a chaga, Dirá — «Fica-te em paz: estás curado» — ! Oh minha doce paz! por ti se cumpram Os decretos do Eterno: tu me escuda Dos tiros que a maldade em mim dispara; A força do leão põe-me na mente, A mansidão da pomba dentro d'alma. Oh pomba ingenua, pomba immaculada, Filha do céo ao céo voemos juntos.
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