abstract
| - Cardan Disse: “O universo é uma criação fictícia que não tem substância própria, é a falta de peso da ausência de desejos do Demiurgo”. “O Demiurgo é o ser incompreensível cuja existência é uma necessidade para a mente funcionar. Se ele não existir, o próprio pensamento seria ilógico, mas a sua existência é incompreensível. Basta saber que ele É, e que o Universo, como ele pode ser conhecido, não foi criado pelo Demiurgo assim como uma nuvem não cria a chuva. Faz parte da natureza da nuvem chover, assim como o Universo faz parte da natureza do Demiurgo”. “No início do tempo, havia uma terra além dos sonhos chamada Elausir. Nesta terra está Iulan, o reflexo do Demiurgo, e tudo era a sua respiração”. “Iulan, vendo que haviam inspirações que não eram expiradas e expirações que eram iguais às inspirações, desejou que todos fizessem parte de um único movimento”. “Ele, então, produziu um imenso cristal, que ele chamou Aur, e com um sopro seu, destruiu o cristal, fazendo-o em incontáveis pedaços”. “Em Elausir, estava a alma da fertilidade, consorte de Iulan, chamada Aniria. Aniria teve medo da quebra de Aur, e tentou esconder-se da destruição deste”. “Porém, quando o cristal foi despedaçado, Aniria não havia conseguido se ocultar totalmente, e quando Aur foi destruído, ela, que era una, passou a ver a si mesma e conhecer a si mesma apenas pelos milhares de reflexos de Aur”. “Iulan conheceu, então, Aniria como incontáveis reflexos diferentes, e a cada um destes, ele chamou Alma. Porém, uma parte de Aniria havia se ocultado da quebra de Aur, esta parte, passou a ser iluminada apenas pela sombra dos reflexos das almas, e desejou desaparecer, porque não podia mais se iluminar com os reflexos de Aur”. “Iulan se compadeceu de Aniria e resolveu ele mesmo insuflar vida à sua parte oculta, iluminando-a com uma outra luz. Assim, a parte oculta de Aniria ficou iluminada de dois lados. Um, pelas sombras das almas, e outro, pela luz direta de Iulan, e Iulan chamou esta parte antes oculta de Ardran, e os fez vários e grandes para também se alegrarem como a almas”. “Mas as almas estavam inquietas, porque conhecendo apenas um reflexo de Aur, ansiavam pelo todo, que estava no passado do qual elas ainda se lembravam. Iulan, então, deu às almas a voz, para que elas pudessem encher Elausir com o Som”. “E as almas então conheceram a música, e o primeiro som que elas ouviram, o primeiro som que todas as almas podem se lembrar, é o da música de Iulan quando ele lhes entregava a voz”. “E as almas criaram cada uma sua música, e cantavam consigo mesmas e com as outras, e não perceberam que entre cada nota havia um silêncio, e era neste silêncio que elas retinham o máximo do seu desejo, e que quanto mais cantavam, mais colocavam sua vontade no silêncio, e assim perdiam a si mesmas”. “Iulan, sabendo disso, deu às almas o sono, para que elas pudessem parar de cantar por um tempo, e ouvirem a sua própria canção enquanto dormiam. E o mundo dos sonhos, Far’andrin (literalmente: reino das emoções), foi inundado com as almas, e passou a refletir a música que elas cantavam”. “Em Far’andrin as almas sentiam sua música enquanto descansavam no silêncio, mas faltava-lhes a experiência completa. E, incapazes de se plenificarem no que criavam, conheceram o desespero”. “Então, Theolan, um dos Ardrans de Iulan, criou para as almas o mundo de Gheldor, aonde elas poderiam entrar através do sonho dos sonhos, e plenificarem-se por viverem a música que criavam como se elas mesmas fossem as notas que tocavam”. “Iulan, vendo isso, percebeu que Gheldor era um mundo dual, no qual as almas poderiam se plenificar ou perder. Ele, então, ordenou aos Ardrans que não mais criassem mundos para as almas, e cantou para os Ardrans, que não tinham vozes próprias, a sua canção, para que eles também pudessem entrar em Far’andrin e em Gheldor, e ajudar as almas a encontrar o caminho de volta”. “E foi assim, e por este motivo que Gheldor foi criado, e os Ardrans vieram a morar com as almas para satisfazer a vontade de Iulan, o seu Criador, e não deixar que houvesse uma só alma que não conhecesse a Vontade, Memória, Inteligência e Verdade, e todas por fim retornassem a Elausir, aonde, cada qual refletindo em si uma música diferente, poderiam por fim recriar Aniria e se reunirem todas na grande respiração de Iulan”.
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