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  • O Amor
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  • Amor! enlevo d'alma, arroubo, encanto Desta existência mísera, onde existes? Fino sentir ou mágico transporte, (O quer que seja que nos leva a extremos, Aos quais não basta a natureza humana;) Simpática atração d'almas sinceras Que unidas pelo amor, no amor se apuram, Por quem suspiro, serás nome apenas? Dobrei-me às duras leis que me impuseste, Curvei ao jugo teu meu colo humilde, Feri-me aos teus ardentes passadores, Prendi-me aos teus grilhões, rojei por terra... E o lucro?... foram lágrimas perdidas, Foi roxa cicatriz qu'inda conservo, Desbotada a ilusão e a vida exausta!
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  • O Amor
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Autor
  • Gonçalves Dias
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  • Amor! enlevo d'alma, arroubo, encanto Desta existência mísera, onde existes? Fino sentir ou mágico transporte, (O quer que seja que nos leva a extremos, Aos quais não basta a natureza humana;) Simpática atração d'almas sinceras Que unidas pelo amor, no amor se apuram, Por quem suspiro, serás nome apenas? A inútil chama ressecou meus lábios, Mirrou-me o coração da vida em meio, E à terra fez baixar a mente errada Que entre nuvens, amor, por ti bradava! Não te pude encontrar! — em vão meus anos No louco intento esperdicei; gelados, Uns após outros a cair precípites Na urna do passado os vi; eu triste, Amor, por ti clamava; — e o meu deserto Aos meus acentos reboava embalde. Em vão meu coração por ti se fina, Em vão minha alma te compreende e busca, Em vão meus lábios sôfregos cobiçam Libar a taça que aos mortais of’reces! Dizem-na funda, inesgotável, meiga; Enquanto a vejo rasa, amarga e dura! Dizem-na bálsamo, eu veneno a sorvo: Prazer, doçura, — eu dor e fel encontro! Dobrei-me às duras leis que me impuseste, Curvei ao jugo teu meu colo humilde, Feri-me aos teus ardentes passadores, Prendi-me aos teus grilhões, rojei por terra... E o lucro?... foram lágrimas perdidas, Foi roxa cicatriz qu'inda conservo, Desbotada a ilusão e a vida exausta! Celeste emanação, gratos eflúvios Das roseiras do céu; bater macio Das asas auribrancas dalgum anjo, Que roça em noite amiga a nossa esfera, Centelha e luz do sol que nunca morre; És tudo, e mais qu'isto: — és luz e vida, Perfume, e vôo d'anjo mal sentido, Peregrinas essências trescalando!... Também passas veloz, — breve te apagas, Como duma ave a sombra fugitiva, Desgarrada voando à flor de um lago!
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