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| - Numa terra antigamente Existia um Trovador; Na Lira sua inocente Só cantava o seu amor. Nenhum sarau se acabava Sem a Lira de marfim, Pois cantar tão alto e doce Nunca alguém ouvira assim. E quer donzela, quer dona, Que sentira comoção Pular-lhe n'alma, escutando Do Trovador a canção; De jasmins e de açucenas A fronte sua adornou; Mas só a rosa da amada Na Lira amante poisou. E o Trovador conheceu Que era traído - por fim; Pôs-se a andar, e só se ouvia Nos seus lábios: ai de mim! Enlutou de negro fumo A rosa de seu amor, Que meia oculta se via Na gorra do Trovador; Como virgem bela, morta Da idade na linda flor, Que parece, o dó trajando, Inda sorrir-se de amor. No meio do seu caminho Gentil donzela encontrou: Canta - disse; e as cordas d'oiro Vibrando, o triste cantou. "Teu rosto engraçado e belo "Tem a lindeza da flor; "Mas é risonho o teu rosto:. "Não tens de sentir amor! "Mas tão bem por esse dia "Que viverás, como a flor, "Mimosa, engraçada e bela, "Não tens de sentir amor! "Oh! não queiras, por Deus, homem que tenha "Tingida a larga testa de palor; "Sente fundo a paixão, - e tu no mundo "Não tens de sentir amor! "Sorriso jovial te enfeita os lábios, "Nas faces de jasmim tens rósea cor; "Fundo amor não se ri, não é corado... "Não tens de sentir amor; "Mas se queres amar, eu te aconselho, "Que não guerreiro, escolhe um trovador, "Que não tem um punhal, quando é traído, "Que vingue o seu amor." Do Trovador pelo rosto Torva raiva se espalhou, E a Lira sua, tremendo, Sem cordas d'oiro ficou. Mais além no seu caminho Donzel garboso encontrou: Canta - disse: e argênteas cordas Pulsando, o triste cantou. "Aos homens da mulher enganam sempre "O sorriso, o amor; "É este breve, como é breve aquele "Sorriso enganador. "Teu peito por amor, Donzel, suspira, "Que é de jovens amar a formosura; "Mas sabe que a mulher, que amor te jura, "Dos lindos lábios seus cospe a mentira! "Já frenético amor cantei na lira, "Delícias já sorvi num seu sorriso, "Já venturas fruí do paraíso, "Em terna voz de amor, que era mentira! "O amor é como a aragem que murmura "Da tarde no cair - pela folhagem; "Não volta o mesmo amor à formosura "Bem como nunca volta a mesma - aragem. "Não queiras amar, não; pois que a'sperança "Se arroja além do amor por largo espaço. "Tens, brilhando ao sol, a forte lança, "Tens longa espada cintilante d'aço. "Tens a fina armadura de Milão, "Tens luzente e brilhante capacete, "Tens adaga e punhal e bracelete "E, qual lúcido espelho, o morrião. "Tens fogoso corcel todo arreiado, "Que mais veloz que os ventos sorve a terra; "Tens duelos, tens justas, tens torneios, "Que os fracos corações de medo cerro; "'tens pajens, tens valetes e escudeiros "E a marcha afoita, apercebida em guerra "Do luzido esquadrão de mil guerreiros. "Oh! não queiras amar! - Como entre a neve "O gigante vulcão borbulha e ferve "E sulfúrea chama pelos ares lança, "Que após o seu cair torna-se fria; "Assim tu acharás petrificada, "Bem como a lava ardente do vulcão, "A lava que teu peito consumia "No peito da mulher - ou cinza ou nada - "Não frio, mas gelado o coração!" E o Trovador despeitoso De prata as cordas quebrou, E nas de chumbo seu fado A lastimar começou. "Que triste que é neste mundo "O fado dum Trovador! , "Que triste que é! - bem que tenha , "Sua Lira e seu amor, "Quando em festejos descanta, "Rasgado o peito com dor, "Mimoso tem de cantar "Na sua Lira - o amor! "Como a um servo vil ordena "Um orgulhoso Senhor, "Canta, diz-lhe; quero ouvir-te: "Quero descantes de amor! "Diz-lhe o guerreiro, que apenas "Lidou em justas de amor: "- Minha dama quer ouvir-te, "Canta, truão trovador! - "Manda a mulher que nos deixa "De beijos murchada flor: "- Canta, truão, quero ouvir-te, "Um terno canto de amor! "Mas se a mulher, que ele adora "Atraiçoa o seu amor; "Embalde busca a seu lado "Um punhal - o Trovador! Se escuta palavras dela, - "Que a outros juram amor; "Embalde busca a seu lado "Um punhal - o Trovador! "Se vê luzir de alguns lábios "Um sorriso mofador; "Embalde busca a seu lado "Um punhal - o Trovador! "Que triste que é neste mundo "O fado dum Trovador! "Pesar lhe dá sua Lira, "Dá-lhe pesar seu amor!" E o Trovador neste ponto A corda extrema arrancou; E num marco do caminho A Lira sua quebrou: Ninguém mais a voz sentida Do Trovador escutou!
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