abstract
| - 11 de setembro > 12 de setembro > 13 de setembro
- O sol oriental brilha nas nuvens, Mais docemente a viração murmura E mais doce no vale a primavera Saudosa e juvenil é toda em rosa... Como os ramos sem folhas Do pessegueiro em flor. Ergue-te, minha noiva, ó natureza! Somos sós — eu e tu: — acorda e canta No dia de meus anos! II Debalde nos meus sonhos de ventura Tento alentar minha esperança morta E volto-me ao porvir... A minha alma só canta a sepultura E nem última ilusão beija e conforta Meu ardente dormir... III Tenho febre... meu cérebro transborda. Eu morrerei mancebo, inda sonhando Da esperança o fulgor... Oh! cantemos ainda: a última corda Treme na lira... morrerei cantando O meu único amor! IV Meu amor foi o sol que madrugava O canto matinal da cotovia E a rosa predileta... Fui um louco, meu Deus, quando tentava Descorado e febril nodoar na orgia Os sonhos de poeta... V Meu amor foi a verde laranjeira Que ao luar orvalhoso entreabre as flores, Melhor que ao meio-dia, As campinas, a lua forasteira, Que triste, como eu sou, sonhando amores Se embebe de harmonia. VI Meu amor!... foi a mãe que me alentava, Que viveu e esperou por minha vida E pranteia por mim... E a sombra solitária que eu sonhava Lânguida como vibração perdida De roto bandolim... VII Eu vaguei pela vida sem conforto, Esperei o meu anjo noite e dia E o ideal não veio... Farto de vida, breve serei morto... Não poderei ao menos na agonia Descansar-lhe no seio... VIII Passei como Don Juan entre as donzelas, Suspirei as canções mais doloridas E ninguém me escutou...! Oh! nunca à virgem flor das faces belas Sorvi o mel nas longas despedidas... Meu Deus! ninguém me amou! IX Vivi na solidão!... odeio o mundo E no orgulho embucei meu rosto pálido Como um astro na treva... Senti a vida um lupanar imundo: Se acorda o triste profanado, esquálido — A morte fria o leva... X E quantos vivos não caíram frios, Manchados de embriaguez da orgia em meio Nas infâmias do vício! E quantos morreram inda sombrios, Sem remorsos dos loucos devaneios... — Sentindo o precipício!... XI Perdoa-lhes, meu Deus! o sol da vida Nas artérias ateia o sangue em lava E o cérebro varia... O século na vaga enfurecida Levou a geração que se acordava E nuta de agonia... XII São tristes deste século os destinos! Seiva mortal as flores que despontam Infecta em seu abrir... E o cadafalso e a voz dos Girondino Não falam mais na glória e não apontam A aurora do porvir! XIII Fora belo talvez, em pé, de novo, Como Byron surgir, ou na tormenta O herói de Waterloo... Com sua idéia iluminar um povo, Como o trovão nas nuvens que rebenta E o raio derramou! XIV Fora belo talvez sentir no crânio A alma de Goethe e reunir na fibra, Byron, Homero e Dante; Sonhar-se num delírio momentâneo A alma da criação e o som que vibra A terra palpitante... XV Mas ah! o viajor nos cemitérios Nessas nuas caveiras não escuta Vossas almas errantes, Do estandarte da sombra nos impérios A morte — como a torpe prostituta - Não distingue os amantes. XVI Eu pobre sonhador... em terra inculta, Onde não fecundou-se uma semente, Convosco dormirei... E dentre nós a multidão estulta Não vos distinguirá a fronte ardente Do crânio que animei... XVII Ó morte! a que mistério me destinas? Esse átomo de luz que inda me alenta, Quando o corpo morrer, Voltará amanhã... aziagas sinas!... Da terra sobre a face macilenta Esperar e sofrer? XVIII Meu Deus, antes, meu Deus, que uma outra vida Com teu sopro eternal meu ser esmaga E minh'alma aniquila... A estrela de verão no céu perdida Também, às vezes, teu alento apaga Numa noite tranqüila!...
- Em Guilenor, a data equivalente é .* As seguintes notícias ou atualizações ocorreram em 12 de setembro:
|