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  • Marília de Dirceu/II/IX
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  • A porta abria, Inda esfregando Os olhos belos, Sem flor, nem fita, Nos seus cabelos. Ah! que assim mesmo Sem compostura, É mais formosa, Que a estrela d'alva, Que a fresca rosa. Mal eu a via, Um ar mais leve, (Que doce efeito!) Já respirava Meu terno peito. Do cerco apenas Soltava o gado, Eu lhe amimava Aquela ovelha Que mais amava. Dava-lhe sempre No rio, e fonte, No prado, e selva, Água mais clara, Mais branda relva. No colo a punha; Então brincando A mim a unia; Mil coisas ternas Aqui dizia. Marília vendo, Que eu só com ela É que falava, Ria-se a furto, E disfarçava.
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Anterior
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  • Parte II , Lira IX
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Autor
  • Tomás Antônio Gonzaga
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  • A porta abria, Inda esfregando Os olhos belos, Sem flor, nem fita, Nos seus cabelos. Ah! que assim mesmo Sem compostura, É mais formosa, Que a estrela d'alva, Que a fresca rosa. Mal eu a via, Um ar mais leve, (Que doce efeito!) Já respirava Meu terno peito. Do cerco apenas Soltava o gado, Eu lhe amimava Aquela ovelha Que mais amava. Dava-lhe sempre No rio, e fonte, No prado, e selva, Água mais clara, Mais branda relva. No colo a punha; Então brincando A mim a unia; Mil coisas ternas Aqui dizia. Marília vendo, Que eu só com ela É que falava, Ria-se a furto, E disfarçava. Desta maneira Nos castos peitos, De dia em dia A nossa chama Mais se acendia. Ah! quantas vezes, No chão sentado, Eu lhes lavrava As finas rocas, Em que fiava! Da mesma sorte Que à sua amada, Que está no ninho, Fronteiro canta O passarinho; Na quente sesta, Dela defronte, Eu me entretinha Movendo o ferro Da sanfoninha. Ela por dar-me De ouvir o gosto, Mais se chegava; Então vaidoso Assim cantava: Não há Pastora, Que chegar possa À minha Bela, Nem quem me iguale Também na estrela; Se amor concede Que eu me recline No branco peito, Eu não invejo De Jove o feito; Ornam seu peito As sãs virtudes, Que nos namoram; No seu semblante As Graças moram. Assim vivia... Hoje em suspiros O canto mudo; Assim, Marília, Se acaba tudo.
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