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| - E à turba, que a justiça desejava, Tinha dito Beati docemente Com sitio e, após tais vozes, se calava. Mais que em toda a jornada antecedente Eu, ligeiro, seguia sem fadiga Os Vates, que subiam velozmente. — Aquele amor, com que virtude instiga, Reproduz — disse o Mestre — a própria chama Mostras de si apenas dar consiga. Dês que, da vida terminada a trama, Do inferno ao limbo, Juvenal descendo, Saber me fez o afeto, que te inflama, Tão vivo bem-querer sabe te rendo, Quanto haver pode a incógnita pessoa, Contigo ora suave andar me sendo. Como pelo Evangelho ficou certo. —
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| - E à turba, que a justiça desejava, Tinha dito Beati docemente Com sitio e, após tais vozes, se calava. Mais que em toda a jornada antecedente Eu, ligeiro, seguia sem fadiga Os Vates, que subiam velozmente. — Aquele amor, com que virtude instiga, Reproduz — disse o Mestre — a própria chama Mostras de si apenas dar consiga. Dês que, da vida terminada a trama, Do inferno ao limbo, Juvenal descendo, Saber me fez o afeto, que te inflama, Tão vivo bem-querer sabe te rendo, Quanto haver pode a incógnita pessoa, Contigo ora suave andar me sendo. Mas dize (e como amigo me perdoa, Se em falar há nímia confiança E em prática amigável arrazoa): Como avareza fez em ti liança Com ciência, que o estudo te alcançava E em que punhas cuidados e esperança? Às palavras do Mestre pronto estava Estácio, e lhe sorrindo: — O que me hás dito Penhor caro é de afeto — lhe tornava. Muitas vezes da dúvida o conflito Por aparência errônea é suscitado, Até que a exata causa surja ao esp?rito. Fica em tua pergunta declarado Creres que eu fora avaro noutra vida, Por ser no círc?lo a avaros destinado. Pois sabe que a avareza repelida Por mim foi nimiamente, e a demasia De luas em milhares foi punida. Minha alma eterno fardo volveria, Se atenção tanta em mim não despertasse A indi?nação, que nos teus versos via, Quando lançaste dos mortais à face: — A que extremos impeles os humanos, Fome de ouro sacrílega e rapace! — Então do excesso em despender, os danos Aprender pude, agro pesar sentindo Desse pecado e de outros tantos insanos. Chorarão, tosquiados ressurgindo, Quantos não têm sabido à penitência Dar-se em vida ou sua hora extrema em vindo! Cada culpa e a que tem contrária essência Aqui a pena dão conjuntamente, No martírio expurgando a virulência. Estive entre essa turba penitente, Que o desvario chora da avareza Por ter sido no oposto renitente. — — Quando cantaste de armas a crueza, Que duplamente molestou Jocasta — Disse o cantor da pastoril simpleza — Pois que de Clio então o ardor te arrasta, Inda o fervor da fé não te incendia, E o bem sem fé para salvar não basta: Que sol, que estrela, em treva tão sombria Te aclarou e dessa arte alçar pudeste Velas após o pescador, que se ia? — — Primeiro — disse Estácio — tu me deste Do Parnaso a beber na doce fonte E de Deus santa luz ver me fizeste. Hás sido, como à noite o guia insonte, Que leva a luz, mas o seu bem não prova, E aqueles serve, de quem vai na fronte, Quando disseste — O séc?lo se renova, Volta a justiça, volta a idade de ouro, E progênie do céu descende nova. — Por ti ganhei a fé, de vate o louro: Isto deve, porém, ser-te explicado; Dê ao desenho a cor de claro o foro, Já stava o mundo inteiro alumiado Da vera crença que do reino eterno Os mensageiros tinham propagado. O vaticínio teu, Mestre superno, Aos predicantes novos se adatava; Por isso, os freqüentando, o bem discerne. Tanto a virtude sua me enlevava, Que, quando os perseguiu Domiciano, Ao pranto seu meu pranto acompanhava. Enquanto estiver no viver humano, Dei-lhes socorro e o seu exemplo austero Ódio inspirou-me às seitas do erro insano. Antes já de cantar o cerco fero De Tebas no batismo renascera: Mas, de medo, ocultei meu crer sincero. Gentio largo tempo eu parecera; Por isso hei tantos séc?los padecido No círc?lo quarto; a pena merecera. Tu a quem devo, pois, ter conseguido O véu rasgar, que tanto bem cobria. Pois que tempo em subir é concedido, Onde Terêncio diz-me ora estancia? Onde está Plauto Varro com Cecílio? À qual parte do inferno a culpa os lia? — — Aqueles, Pérsio e eu — tornou Virgílio — E os outros mais o Grego acompanhamos Predileto das Musas; lá no exílio Do círculo primeiro demoramos Vezes freqüentes do famoso monte, Das Camenas assento praticamos. Eurípede é conosco e Anacreonte, Simônide, Agaton e outros inda Gregos, que cingem de laurel a fronte. Stão heroínas, que cantaste: a linda Antígone, Deifile com Argia, Ismênia, em quem tristeza nunca finda; Vê-se também a que mostrou Langia, Tétis se vê e de Tirésia a filha, E das irmãs Deidama em companhia — Os dois, da poesia maravilha, Calaram-se, ao que os cerca atentos stando, Vencida sendo da subida a trilha. Das ancilas do dia atrás ficando A quarta, logo a quinta se jungia Ao carro ardente, ao alto o encaminhando, Quando o Mestre — Eu suponho — nos dizia Que nós à destra caminhar devemos, Volteando, como antes se fazia. — Desta arte na exp?riência a mestra havemos, E no andar prosseguimos confiados, Porque de Estácio o assenso recebemos. Iam diante os Vates afamados, E eu logo após, nas vozes escutando Arcanos da poesia sublimados, Eis rompe esse colóquio doce e brando Uma árvore, que à estrada em meio achamos: Lindos pomos na fronde estão cheirando. Vão para cima decrescendo os ramos De abeto; estes descendo diminuem: Para alguém não subir — acreditamos. Límpidos jorros do penedo ruem Da parte, em que a montanha a entrada mura; Sobre as folhas em rocio as gotas fluem. Estácio com Virgílio se apressura Para essa árvore, quando voz, da fronde, Gritou: — Não gozareis desta doçura! Maria (e o seu desejo não se esconde) Atende mais das bodas à grandeza Que ao seu gosto; e por vós ora responde. Das Romanas à antiga singeleza Água bastava; e Daniel ciência Logrou, tendo em desprezo a régia mesa. Chamou-se de ouro a idade da inocência; Fez as glandes a fome saborosas; Água em néctar tornou da sede a ardência. Ao Batista iguarias bem gostosas Mel, gafanhotos foram no deserto: Assim fez grandes obras gloriosas, Como pelo Evangelho ficou certo. —
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