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| - Beatriz, como a mãe, que ao filho caro Súbito acorre ao vê-lo espavorido, Com voz, que sói lhe ser terno anteparo, — Ao céu — disse — não vês que foste erguido? Ignoras tu que o céu em tudo é santo E a caridade a tudo há presidido? Pois comover-te o grito pôde tanto, Oh! quanto o meu sorriso te abalara E dos celestes coros o alto canto! Se esse grito os seus rogos revelara, Já de agora souberas a vingança, Que inda antes de morrer, verás, amara. Do céu a espada pune sem tardança, Mas sem pressa, conquanto o não pareça A quem no medo aguarde e na esperança Mas por voltar o rosto ora começa: Que tens de ver espíritos famosos, Se a vista, como eu digo, se endereça. — Como ordenara, os olhos curiosos Alcei: glóbulos vejo mais de cento, Que os raios seus cruzavam luminosos. Eu estava como quem reprime atento Do desejo o aguilhão, e receava Por perguntas mostrar molesto intento; Eis uma dessas pér?las, que ostentava Entre as outras mais brilho, mais grandeza. Para dar-me contento se acercava. — Se como eu — disse a sua voz — certeza Da caridade houvesse, que em nós arde, Teu desejo exprimiras com franqueza. Por que maior demora não retarde Teu fim sublime, eu te darei resposta, Posto em silêncio o teu pensar se aguarde. O monte, que o Cassino tem na encosta, Estava, em seu cabeço, povoado Por gente ignara, ao erro e ao mal disposta Ali, primeiro, o Nome hei proclamado Daquele, que aos humanos a verdade Trouxe que humanos tanto há sublimado. Da Graça em mim luziu tal claridade, Que salvar pude os povos circunstantes Do culto, que perdera a humanidade. Eremitas hão sido esses brilhantes Fogos, que vês: na flama se acenderam, Que frutos brota e flores vicejantes. Macário e Romualdo aqueles eram, Estes os meus irmãos, que, os pés firmando No claustro, os corações ao Senhor deram. — — Esse afeto, que mostras me falando — Tornei — e o bem-querer, que tão patente Nos esplendores vossos ?stou notando, O ânimo dilata-me: igualmente O sol faz, quando à rosa purpurina O seio desabrocha rescendente. E, pois, te rogo, ó Padre meu, te inclina A declarar-me se a mercê mereço De ver-te a face, mas sem véu, beni?na. — — O teu sublime anelo todo apreço Há de achar — disse — irmão, na extrema esfera, Onde todos e o meu terão seu apreço. Madura, inteira ali se considera Perfeita a aspiração; ali somente Demora cada parte sempre onde era. Sem pólos, sem lugar é permanente; Até lá nossa escada vai subindo; Foge-te à vista a sua altura ingente. Viu-a Jacó, o topo lhe atingindo, Quando em sua visão a contemplava De inumeráveis anjos refulgindo. Mas ninguém por subi-la os pés destrava Hoje da terra; e a minha regra escrita Inutilmente nos papéis se grava. A morada monástica bendita É covil; o capuz se há transformado E farinha contém ruim, maldita. Não seja usura havida por pecado Tão grave contra Deus, quanto a avareza, Que aos monges tem os corações eivado; Pois quanto a Igreja poupa é da pobreza, Que de Deus por amor seu pão mendiga, Não pra cevo a parentes, ou a torpeza. Na terra a carne ao homem tanto obriga, Que haver um bom princípio não bastara Entre a planta em nascendo e a sua espiga. Sem ouro e prata Pedro começara, Eu com jejuns, com orações; convento Francisco humildemente levantara. De cada qual à origem estando atento, Verás o branco em negro transformado, Se depois tens seu fim no pensamento. Maior milagre foi, quando tornado Para trás, o Jordão do mar fugia, Do que socorro a tanto mal levado. — Calou-se, e a santa grei logo se unia; Cerrou-se a grei, e o espírito com ela, Qual turbilhão, na altura se encobria. Na escada alcei-me após, da dama bela Ao oceano; por seu poder mudada A natureza minha se revela. Naturalmente nunca acelerada Descida houve na terra, nem subida, Que possa ao meu voar ser igualada. Seja-me assim, leitores, concedida A glória, pela qual choro e suspiro, Bata nos peitos de alma compungida, Como eu, enquanto o dedo meto e tiro, Do fogo o signo, de que está seguido O Tauro, vi, e entrei logo em seu giro. Gloriosas estrelas, luz que hás sido Por grã virtude a causa de que emana Humilde engenho, que há em mim nascido, Convosco na carreira, em que se afana, Andava o que a mortal vida origina, Quando aspirei primeiro ar da Toscana. E quanto permitiu Graça Divina Nesse alto céu entrar, que vos compreende, Por vós passar me deu sorte beni?na. Por vós devoto anelo em mim se acende Para alcançar virtude nesse forte, Árduo passo que a si me atrai, me prende. — Perto à ventura extrema és de tal sorte, Que a vista clara tens e penetrante — Diz Beatriz, o meu formoso norte. Mas antes de te ergueres mais avante, Remira abaixo, e vê, por mim guiado, Sob os pés quanto mundo está distante; Por que teu peito, em júbilo inundado, Seja presente ao povo triunfante, Que nesta esfera avança extasiado. — Então, volvendo os olhos anelante Às sete esferas, nosso globo vejo Tal, que sorri-me do seu vil semblante. Quem lhe dá pouco apreço em todo ensejo Aplaudo, e grande sábio, em meu conceito, É quem põe noutra parte o seu desejo. Vejo da filha de Latona o aspeito Sem a sombra, que fosse em parte densa, Em parte rara imaginar me há feito. Do filho, Hiperião, a flama intensa Pude olhar; perto e em torno lhe giravam Maia e Dione em volta pouco extensa. Como aos do pai e filho temperavam De Jove os fogos, vi e o movimento Vário, que em roda ao centro seu formavam. Dos orbes sete eu contemplava atento Grandeza e rapidez, e comprendia Distâncias e postos seus no firmamento. Como o curso dos Gêmeos eu seguia De montes, mares via todo envolto O canto estreito, em que homem se gloria: Olhos depois aos belos olhos volto.
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