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| - Eu amo a noite solitária e muda, Quando no vasto céu fitando os olhos, Além do escuro, que lhe tinge a face, Alcanço deslumbrado Milhões de sóis a divagar no espaço, Como em salas de esplêndido banquete Mil tochas aromáticas ardendo Entre nuvens d'incenso! Eu amo a noite taciturna e queda! Amo a doce mudez que ela derrama, E a fresca aragem pelas densas folhas Do bosque murmurando: Então, malgrado o véu que envolve a terra, A vista, do que vela enxerga mundos, E apesar do silêncio, o ouvido escuta Notas de etéreas harpas.
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| - Eu amo a noite solitária e muda, Quando no vasto céu fitando os olhos, Além do escuro, que lhe tinge a face, Alcanço deslumbrado Milhões de sóis a divagar no espaço, Como em salas de esplêndido banquete Mil tochas aromáticas ardendo Entre nuvens d'incenso! Eu amo a noite taciturna e queda! Amo a doce mudez que ela derrama, E a fresca aragem pelas densas folhas Do bosque murmurando: Então, malgrado o véu que envolve a terra, A vista, do que vela enxerga mundos, E apesar do silêncio, o ouvido escuta Notas de etéreas harpas. Eu amo a noite taciturna e queda! Então parece que da vida as fontes Mais fáceis correm, mais sonoras soam, Mais fundas se abrem; Então parece que mais pura a brisa Corre, — que então mais funda e leve a fonte Mana, — e que os sons então mais doce e triste Da música se espargem. O peito aspira sôfrego ar de vida, Que da terra não é; qual flor noturna, Que bebe orvalho, ele se embebe e ensopa Em êxtase de amor: Mais direitas então, mais puras devem, Calada a natureza, a terra e os homens, Subir as orações aos pés do Eterno Para afagar-lhe o trono! Assim é que no templo majestoso Reboa pela nave o som mais alto, Quando o sacro instrumento quebra a augusta Mudez do santuário; Assim é que o incenso mais direito Se eleva na capela que o resguarda, E na chave da abóbada topando, Como um dossel, se espraia. Eu amo a noite solitária e muda; Como formosa dona em régios paços, Trajando ao mesmo tempo luto e galas Majestosa e sentida; Se no dó atentais, de que se enluta, Certo sentis pesar de a ver tão triste; Se o rosto lhe fitais, sentis deleite De a ver tão bela e grave! Considerai porém o nobre aspecto, E o porte, e o garbo senhoril e altivo, E as falas poucas, e o olhar sob'rano, E a fronte levantada: No silêncio que a veste, adorna e honra, Conhecendo por fim quanto ela é grande, Com voz humilde a saudarei rainha, Curvado e respeitoso. Eu amo a noite solitária e muda, Quando, bem como em salas de banquete Mil tochas aromáticas ardendo, Giram fúlgidos astros! Eu amo o leve odor que ela difunde, E o rorante frescor caindo em pér'las, E a mágica mudez que tanto fala, E as sombras transparentes! Oh! quando sobre a terra ela se estende, Como em praia arenosa mansa vaga; Ou quando, como a flor dentre o seu musgo, A aurora desabrocha; Mais forte e pura a voz humana soa, E mais se acorda ao hino harmonioso, Que a natureza sem cessar repete, E Deus gostoso escuta.
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