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| - Uma noite, aos murmúrios do piano Pálida misturou um canto aéreo... Parecia de amor tremer-lhe a vida Revelando nos lábios um mistério! Porém, quando expirou a voz nos lábios, Ergueu sem pranto a fronte descorada, Pousou a fria mão no seio imóvel, Sentou-se no divã... sempre gelada! Passou talvez do cemitério à sombra Mas nunca numa cruz deixou seu ramo, Ninguém se lembra de lhe ter ouvido Numa febre de amor dizer: "eu amo!" Não chora por ninguém... e quando, à noite, Lhe beija o sono as pálpebras sombrias Não procura seu anjo à cabeceira E não tem orações, mas ironias!
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abstract
| - Uma noite, aos murmúrios do piano Pálida misturou um canto aéreo... Parecia de amor tremer-lhe a vida Revelando nos lábios um mistério! Porém, quando expirou a voz nos lábios, Ergueu sem pranto a fronte descorada, Pousou a fria mão no seio imóvel, Sentou-se no divã... sempre gelada! Passou talvez do cemitério à sombra Mas nunca numa cruz deixou seu ramo, Ninguém se lembra de lhe ter ouvido Numa febre de amor dizer: "eu amo!" Não chora por ninguém... e quando, à noite, Lhe beija o sono as pálpebras sombrias Não procura seu anjo à cabeceira E não tem orações, mas ironias! Nunca na terra uma alma de poeta, Chorosa, palpitante e gemebunda Achou nessa mulher um hino d'alma E uma flor para a fronte moribunda. Lira sem cordas não vibrou d'enlevo, As notas puras da paixão ignora, Não teve nunca n'alma adormecida O fogo que inebria e que devora! Descrê. Derrama fel em cada riso, Alma estéril não sonha uma utopia... Anjo maldito salpicou veneno Nos lábios que tressuam de ironia. É formosa contudo. Há dessa imagem No silêncio da estátua alabastrina Como um anjo perdido que ressumbra Nos olhos negros da mulher divina. Há nesse ardente olhar que gela e vibra, Na voz que faz tremer e que apaixona O gênio de Satã que transverbera, E o langor pensativo da Madona! É formosa, meu Deus! Desde que a vi Na minh'alma suspira a sombra dela... E sinto que podia nesta vida Num seu lânguido olhar morrer por ela.
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