About: dbkwik:resource/ub1LD8gWvP_PWj0vn_m2yA==   Sponge Permalink

An Entity of Type : owl:Thing, within Data Space : 134.155.108.49:8890 associated with source dataset(s)

AttributesValues
rdfs:label
  • Adeus
rdfs:comment
  • Meus amigos, Adeus! Já no horizonte O fulgor da manhã se empurpurece: É puro e branco o céu, - as ondas mansas, - Favorável a brisa; - irei de novo Sorver o ar puríssimo das ondas, E na vasta amplidão dos céus e mares De vago imaginar embriagar-me! Meus Amigos, Adeus! - Verei fulgindo A lua em campo azul, e o sol no ocaso Tingir de fogo a implacidez das águas; Verei hórridas trevas lento e lento Desceram, como um crepe funerário Em negro esquife, onde repoisa a morte; Verei a tempestade quando alarga As negras asas de bulcões, e as vagas Soberbas encastela, esporeando O curto bojo de ligeiro barco, Que geme, e ruge, e empina-se insofrido Galgando os escarcéus, - bem larga esteira De fósforo e de luz trás si deixando: Generoso corcel, que sente as cruzes Agudas de teimosos acicates Lacerare
dcterms:subject
dbkwik:pt.poesia/p...iPageUsesTemplate
notas
  • Publicado no livro Primeiros Cantos .
Autor
  • Gonçalves Dias
abstract
  • Meus amigos, Adeus! Já no horizonte O fulgor da manhã se empurpurece: É puro e branco o céu, - as ondas mansas, - Favorável a brisa; - irei de novo Sorver o ar puríssimo das ondas, E na vasta amplidão dos céus e mares De vago imaginar embriagar-me! Meus Amigos, Adeus! - Verei fulgindo A lua em campo azul, e o sol no ocaso Tingir de fogo a implacidez das águas; Verei hórridas trevas lento e lento Desceram, como um crepe funerário Em negro esquife, onde repoisa a morte; Verei a tempestade quando alarga As negras asas de bulcões, e as vagas Soberbas encastela, esporeando O curto bojo de ligeiro barco, Que geme, e ruge, e empina-se insofrido Galgando os escarcéus, - bem larga esteira De fósforo e de luz trás si deixando: Generoso corcel, que sente as cruzes Agudas de teimosos acicates Lacerarem-lhe rábidas o ventre. Inda uma vez, Adeus! Curtos instantes De inefável prazer - horas bem curtas De ventura e de paz frui convosco: Oásis que encontrei no meu deserto, Tépido vale entre fragosas serras Virente derramado, foi a quadra Da minha vida, que passei convosco. Aqui de quanto amei, do que hei sofrido, De tudo quanto almejo, espero, ou temo Deslembrado vivi! - Oh! quem me dera Que entre vós outros me alvejasse a fronte, E que eu morresse entre vós! Mas força oculta, lrresistível, me persegue e impele. Qual folha instável em ventoso estio Do vento ao sopro a esvoaçar sem custo; Assim vou eu sem tino, - aqui pegadas Mal firmes assentando - além pedaços De mim mesmo deixando. Na floresta O lasso viandante extraviado Por todo o verde bosque estende os olhos, E cansado esmorece, - cai, medita, Respira mais de espaço, cobra alento, E nas solidões de novo ei-lo se entranha. Vestígios mal seguros sopra o vento, Ou nivela-os a chuva, ou relva os cobre: Talvez que folhas ásperas de arbusto Mordam velos da túnica, e denotem (Duvida o viajor, que os vê com pasmo) Que errante caminheiro ali passasse. E eu parti! - Não chorei, que do meu pranto A larga fonte jaz de há muito exausta; Há muito que os meus olhos não gotejam O repassado fel d'acre amargura; E o pranto no meu peito represado Em cinza o coração me há convertido. É assim que um vulcão se torna fonte De linfa amarga e quente; e a fonte em ermo, Onde não crescem perfumadas flores, Nem tenras aves seus gorjeios soltam, Nem triste viajor encontra abrigo. Rasgado o coração de pena acerba, Transido de aflições, cheio de mágoa, Miserando parti! tal quando réprobo, Adão, cobrindo os olhos co'as mãos ambas, Em meio a sua dor só descobria Do Arcanjo os candidíssimos vestidos, E os lampejos da espada fulminante, Que o Éden tão mimoso lhe vedava. Porém quando algum dia o colorido Das vivas ilusões, que inda conservo, Sem força esmorecer, - e as tão viçosas Esp'ranças, que eu educo, se afundarem Em mar de desenganos; - a desgraça Do naufrágio da vida há de arrojar-me A praia tão querida, que ora deixo, Tal parte o desterrado: um dia as vagas Hão de os seus restos rejeitar na praia, Donde tão novo se partira, e onde Procura a cinza fria achar jazigo.
Alternative Linked Data Views: ODE     Raw Data in: CXML | CSV | RDF ( N-Triples N3/Turtle JSON XML ) | OData ( Atom JSON ) | Microdata ( JSON HTML) | JSON-LD    About   
This material is Open Knowledge   W3C Semantic Web Technology [RDF Data] Valid XHTML + RDFa
OpenLink Virtuoso version 07.20.3217, on Linux (x86_64-pc-linux-gnu), Standard Edition
Data on this page belongs to its respective rights holders.
Virtuoso Faceted Browser Copyright © 2009-2012 OpenLink Software