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  • Seja o que for que esteja no centro do Mundo
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  • Ser real quer dizer não estar dentro de mim. Da minha pessoa de dentro não tenho noção de realidade. Sei que o mundo existe, mas não sei se existo. Estou mais certo da existência da minha casa branca Do que da existência interior do dono da casa branca. Creio mais no meu corpo do que na minha alma, Porque o meu corpo apresenta-se no meio da realidade. Podendo ser visto por outros, Podendo tocar em outros, Podendo sentar-se e estar de pé, Mas a minha alma só pode ser definida por termos de fora. Existe para mim — nos momentos em que julgo que efetivamente existe —
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  • Seja o que for que esteja no centro do Mundo
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Autor
  • Alberto Caeiro
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  • Ser real quer dizer não estar dentro de mim. Da minha pessoa de dentro não tenho noção de realidade. Sei que o mundo existe, mas não sei se existo. Estou mais certo da existência da minha casa branca Do que da existência interior do dono da casa branca. Creio mais no meu corpo do que na minha alma, Porque o meu corpo apresenta-se no meio da realidade. Podendo ser visto por outros, Podendo tocar em outros, Podendo sentar-se e estar de pé, Mas a minha alma só pode ser definida por termos de fora. Existe para mim — nos momentos em que julgo que efetivamente existe — Por um empréstimo da realidade exterior do Mundo Se a alma é mais real Que o mundo exterior como tu, filósofos, dizes, Para que é que o mundo exterior me foi dado como tipo da realidade" Se é mais certo eu sentir Do que existir a cousa que sinto — Para que sinto E para que surge essa cousa independentemente de mim Sem precisar de mim para existir, E eu sempre ligado a mim-próprio, sempre pessoal e intransmissível? Para que me movo com os outros Em um mundo em que nos entendemos e onde coincidimos Se por acaso esse mundo é o erro e eu é que estou certo? Se o Mundo é um erro, é um erro de toda a gente. E cada um de nós é o erro de cada um de nós apenas. Cousa por cousa, o Mundo é mais certo. Mas por que me interrogo, senão porque estou doente? Nos dias certos; nos dias exteriores da minha vida, Nos meus dias de perfeita lucidez natural, Sinto sem sentir que sinto, Vejo sem saber que vejo, E nunca o Universo é tão real como então, Nunca o Universo está (não é perto ou longe de mim. Mas) tão sublimemente não-meu. Quando digo "é evidente", quero acaso dizer "só eu é que o vejo"? Quando digo "é verdade", quero acaso dizer "é minha opinião"? Quando digo "ali está", quero acaso dizer "não está ali"? E se isto é assim na vida, por que será diferente na filosofia? Vivemos antes de filosofar, existimos antes de o sabermos, E o primeiro fato merece ao menos a precedência e o culto. Sim, antes de sermos interior somos exterior. Por isso somos exterior essencialmente. Dizes, filósofo doente, filósofo enfim, que isto é materialismo. Mas isto como pode ser materialismo, se materialismo é uma ilosofia, Se uma filosofia seria, pelo menos sendo minha, uma filosofia minha, E isto nem sequer é meu, nem sequer sou eu?
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