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Na várzea
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Agora que a manhã é fresca e branca E o campo solitário e o val se arreia... Ó meu amigo, passeemos juntos Na várzea que do rio as águas negras Umedecem fecundas... O campo é só: na chácara florida Dorme o homem do vale e no convento Cintila a medo a lâmpada da virgem, Que pálidas vestais no altar acendem! Tudo acorda, meu Deus, nestas campinas! Os cantos do Senhor erguem-se em nuvens, Como o perfume que evapora o leito Do lírio virginal!
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Na várzea
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Álvares de Azevedo
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Agora que a manhã é fresca e branca E o campo solitário e o val se arreia... Ó meu amigo, passeemos juntos Na várzea que do rio as águas negras Umedecem fecundas... O campo é só: na chácara florida Dorme o homem do vale e no convento Cintila a medo a lâmpada da virgem, Que pálidas vestais no altar acendem! Tudo acorda, meu Deus, nestas campinas! Os cantos do Senhor erguem-se em nuvens, Como o perfume que evapora o leito Do lírio virginal! Acorda, ó meu amigo: quando brilha Em toda a natureza tanto encanto, Tanta magia pelo céu flutua E chovem sobre os vales harmonias, É descrer do Senhor dormir no tédio, É renegar das santas maravilhas O ardente coração não expandir-se E a alma não jubilar dentro do peito! Lá onde mais suave entre os coqueiros, O vento da manhã nas casuarinas Cicia mais ardente suspirando, Como de noite no pinhal sombrio Aéreo canto de não vista sombra, Que enche o ar de tristeza e amor transpira... Lá onde o rio molemente chora Nas campinas em flor e rola triste... Alveja, à sombra, habitação ditosa, Coroa os frisos da janela verde A trepadeira em flor do jasmineiro E pelo muro se avermelha a rosa. Ali quando a manhã acorda a bela, A bela, que eu sonhei nos meus amores... Ao primeiro calor do sol d'aurora Entorna-se da flor o doce aroma, Inda mais doce em matutino orvalho, Nas tranças negras da donzela pálida, Mais bela que o diamante se aveluda, Camélia fresca, inda em botão, tingida De neve e de coral... no seio dela Não reluz o colar... em negro fio A cruz da infância melhor guarda o seio, Que o amor virginal beija tremendo E os ais do coração melhor perfuma... Vem comigo, mancebo: aqui sentemo-nos... Ela dorme: a janela inda cerrada Se enche de rosas e jasmins, à noite... E as flores virgens com o aberto seio Um beijo da donzela ainda imploram. Mais doce o canto foge de mistura Co'as doces notas do violão divino! Anjo da vida te verteu nos lábios O mel dos serafins que a voz serena, Que a transborda de encanto e de harmonia E faz no eco propulsar meu peito! Suspire o violão: nos seus lamentos Murmura essa canção dos meus amores, Que este peito sangrento lhe votara, Quando a seus pés, acesa a fantasia, Em doce engano derramei minh'alma! Quando a brisa seus ais melhor afina, Quando a frauta no mar branda suspira, Com mais encanto as folhas do salgueiro Debruçam-se nas águas solitárias E deixam, gota a gota, o argênteo orvalho Como prantos nas folhas deslizar-se. Quando a voz do cantor perder-se, à noite, Na margem da torrente, ou nas campinas, Ou no umbroso jardim que flores cobrem... Mais doce a noite pelo céu vagueia, Melhor florescem as noturnas flores... E o seio da mulher, que a noite embala, Pulsa quente e febril com mais ternura! Se o anjo de meus tímidos amores Pudesse ouvir-te os cândidos suspiros, Que a minha dor de amante lhe revelam... Se ela acordasse, nos cabelos soltos Inda o semblante sonolento e pálido E o seio seminu e os ombros níveos E as trêmulas mãos cobrindo o seio... Se esta janela num instante abrisse A fada da ventura, embora apenas Um instante... sequer... Meus pobres sonhos, Como saudosos vos murchais sedentos! Flores do mar que um triste vagabundo Arrancou de seu leito umedecido E grosseiro apertou nas mãos ardentes, Eu morro de saudade! e só me nutre Inda nas tristes, desbotadas veias O sangue do passado e da esperança!