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Inimigo Oculto
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Deep Babylon, o coração da Federação na galáxia de Aquário. Um enorme complexo espacial na órbita do misterioso planeta Ravish. Em seu curto tempo de vida tornou-se o centro de intrigas de toda a galáxia. Seu papel de território neutro para as mais diversas raças da galáxia de Aquário fez com que ela e a Federação se tornassem grandes mediadoras de conflitos, que precisavam de um conciliador cuja força e opinião fossem respeitadas. Nem mesmo o Domo, uma república federativa interestelar, tal qual a Federação, possui um porto seguro para as raças que ali desejam passar ou ficar. * - Como assim? *
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Deep Babylon, o coração da Federação na galáxia de Aquário. Um enorme complexo espacial na órbita do misterioso planeta Ravish. Em seu curto tempo de vida tornou-se o centro de intrigas de toda a galáxia. Seu papel de território neutro para as mais diversas raças da galáxia de Aquário fez com que ela e a Federação se tornassem grandes mediadoras de conflitos, que precisavam de um conciliador cuja força e opinião fossem respeitadas. Nem mesmo o Domo, uma república federativa interestelar, tal qual a Federação, possui um porto seguro para as raças que ali desejam passar ou ficar. Por causa desse papel, cada vez mais problemas diplomáticos e econômicos têm sido resolvidos em seu espaço, pois nenhuma outra força no quadrante se esforça mais em manter a paz com as raças que ali habitam. Justamente por isso ela se tornou o maior alvo de intrigas, conspirações e atentados da última década. Quem conseguir manchar a sua imagem de neutralidade e força, conseguirá enfraquecer diversos laços diplomáticos e econômicos entre a Federação, o Domo e diversos planetas soberanos. Novamente uma ameaça surge para desestabilizar a tão frágil paz que tantos lutam para defender. Vários planetas independentes têm sido atacados por forças misteriosas nos últimos meses. Mundo após mundo, ninguém sobreviveu para dizer quem foi o responsável ou o possível motivo de tais ataques. O medo somente aumentou, fazendo com que os planetas próximos dos ataques cobrassem uma atitude do Domo e, principalmente, da Federação, pois além deles não poderem se defender de um inimigo oculto, logo isso se tornaria uma ameaça para ambos. Apesar de não exercer jurisdição nos territórios atacados, a Federação se viu obrigada a tomar uma atitude: o envio de uma nave estelar com a missão de descobrir o responsável pelos ataques. Gesto que foi criticado por ser pequeno demais comparado à ameaça de um inimigo misterioso e mortal. A capitão Diana Dahen, oficial comandante da Deep Babylon, ordenou que a USS Queen Elizabeth fosse até a fronteira do Domo e fizesse uma investigação detalhada. A missão teria início assim que a sua tripulação estivesse pronta. * Naquele dia, diversas naves estavam atracadas na doca principal da base, mas para dois homens que observavam tudo através das janelas do saguão de observação, era possível ver apenas uma delas. Com sua seção disco em formato triangular, a USS Queen Elizabeth era a mais nova nave da classe Pioneer a ser construída no estaleiro de Ravish. Esta foi a primeira classe de naves estelares a ser totalmente desenvolvida e construída na galáxia de Aquário. O seu criador é o engenheiro chefe da Deep Babylon, o comandante Demar Lopez, que idealizou uma nave rápida, forte e adaptada para as mais diversas situações. É, na verdade, um explorador de espaço profundo com a capacidade de enfrentar batalhas e servir como nave científica. Seu desenho lembra a de uma Prometheus, porém um pouco menor, sem o modo de ataque multi-vetor, com apenas duas naceles de dobra e metade de seu poder de fogo. Possui a tecnologia mais atual da Frota Estelar, sendo produzida em larga escala: mais cinco naves desta classe já foram construídas. - Mas ela não é linda? – disse um dos homens que olhava pelo vidro. - Ela é bonita, mas não tem nada demais – disse o segundo homem, mais alto que o primeiro e com a patente de comandante em seu uniforme. - Hal, por favor, um pouco mais de animação não lhe faria mal. - Estou animado, só não entendo como deram a você o comando de uma nave como essas, não depois do que aconteceu com a última... - Isso é passado, o importante é que agora serei o capitão de uma nave recém-construída e terei meu velho amigo ao meu lado. - E você ainda não me convenceu de que você não teve nada a ver com a minha transferência para o seu comando. - Você precisa começar a acreditar em coincidências, Hal. - Não, Sam, eu não acredito em coincidências e não sei se ainda tenho ânimo para te acompanhar. - Você faz parecer que é um velho. - Velho não, mas cansado de me envolver com batalhas e problemas políticos. - Você vai mudar de ideia assim que pôr os pés nela. - Falando nisso, nós já deveríamos ter embarcado. O que estamos fazendo aqui, afinal de contas? - Temos que pegar um dos tripulantes – e saiu andando com um sorriso no rosto. - Falando em tripulação – disse, alcançando Sam – estou com o manifesto aqui e você poderia dizer onde estava com a cabeça quando escolheu esses oficiais? - Como assim? - Vejamos... Um andoriano como chefe de operações, tudo bem, mas numa mesma nave com um klingon como chefe de segurança e um vulcano como engenheiro chefe? Além disso, temos uma cientista chefe que nunca serviu em uma nave grande como essa e um médico que, de acordo com sua ficha, tem uma reprimenda por ter feito uma piada no funeral do almirante Kaine. - Hal, todos esses oficiais foram escolhidos pela sua ficha de serviço e por terem ótimas recomendações de seus antigos oficiais superiores. - Ah, eu já sei o que você está tentando fazer – disse, apontando o dedo para Sam – Você quer descobrir se uma tripulação tão heterogênea é capaz de se dar bem, não é? - Confesso que isso possa ter passado pela minha mente. - Pelos deuses, Sam, será que tudo não passa de um jogo para você? - Hal, se eles aprenderem a confiar e respeitar uns aos outros, eles serão a melhor tripulação que existe. - Ah, sei... Eles entraram em um turbo elevador e seguiram para o promenade. Lá eles andaram no meio da multidão de civis que circulavam naquela hora do dia e acabaram entrando em um dos estabelecimentos mais frequentados, o Gonzaga’s Recreation Club, que, curiosamente, não tinha nenhum Gonzaga como proprietário. Assim que colocaram os pés no bar depararam-se com um ambiente que misturava casa noturna e restaurante. - Hum, ali está ela – disse Sam, indo em direção à uma mesa com várias pessoas sentadas a sua volta. - Ela quem? – Hal procurou por qualquer pessoa que lhe parecesse familiar. - Minha navegadora. - Navegadora? Hal olhou no padd em que trazia procurando a ficha da navegadora, a única que ele não tinha lido atentamente ainda. - Diversas advertências e suspensões por insubordinação, ataques a oficiais e desobediência direta a ordens de superiores? Ao se aproximaram da mesa viram quatro homens e uma mulher com uniforme da Frota Estelar sentados jogando algo com cartas. Então, a mulher e um dos homens ficaram de pé, jogando suas cadeiras para longe, trocando insultos. Quando o homem apontou um dedo para ela, a mulher empurrou o braço dele com sua mão e com a outra deu-lhe um soco de direita, outro de esquerda e, por fim, mais um de direita que jogou o homem em cima da mesa desacordado. - Alferes Jill Blythe? – perguntou ele à mulher de cabelos loiros, presos formando uma trança suíça. - Sim, quem quer saber? – disse, pronta para derrubar mais uma pessoa. - Capitão Sam Neill, seu novo oficial comandante. Hal, apresente-se para a moça. - Ah, sim... Comandante Hal Thorne. - Nossa, na galáxia de Aquário os oficiais comandantes vêm buscar seus subordinados? - Só quando eles estão meia hora atrasados. - Eu não teria me atrasado se esse idiota não tivesse tentado roubar o meu latinum. - Acho que ele aprendeu a lição. Vamos? Jill pegou uma barra de latinum que estava sobre a mesa e saiu na frente deles. Sam foi logo atrás dela e, antes de sair, Hal olhou para o homem na mesa e disse: - Melhor você pôr um pouco de gelo aí! Devido à urgência da missão, todas as formalidades do lançamento de uma nave estelar tiveram que ser adiadas, mas aquilo não era problema para Sam, que estava ansioso para iniciar logo sua solução para o problema. Sim, para ele a missão não passava de um mistério a ser resolvido, como um jogo. Todas as missões tinham uma solução, por mais impossíveis que fossem e para ele a busca da solução lhe trazia uma grande satisfação. Assim que Sam e Hal entraram na ponte da Queen Elizabeth eles pararam em frente da placa de comissionamento da nave. - Though God hath raised me high, yet this I account the glory of my reign, that I have reigned with your loves – leu Sam na placa. - O que isso quer dizer? - Esta pode ser uma grande nave, mas não significa nada se sua tripulação não for unida e confiar em seu capitão. - Poderia ter dito isso de uma vez. - Mais respeito Hal, estamos falando de uma rainha. A minha rainha – disse, enquanto sentava-se na cadeira de comando. Todos já estavam em seus postos e todos os setores notificaram que estarem prontos para partir. - Senhor, o controle de voo nos deu permissão para partir – disse a alferes Blythe. - Muito bem, vamos desatracar. - Liberando as amarras. Manobrando com propulsores. Com bastante cuidado e precisão a nave começou a se movimentar dentro da doca principal da Deep Babylon. Logo ela estava na frente das grandes comportas que se abriam para sua saída. - À frente, um quarto de impulso. A alferes sorriu, gostava de saber que seu capitão não seguia regras tolas como só ativar os motores de impulso depois que a nave estiver a mais de mil quilômetros da base. A Queen Elizabeth começou a se afastar da Deep Babylon, passando por todo o complexo espacial. Poderia não ser a maior nave que trafegava ali naquele dia, mas com certeza era a que mais chamava a atenção, pelo seu design ou por ser uma das primeiras da sua classe a iniciar uma nova jornada. - Leme, traçar curso para a fronteira do espaço do Domo, dobra máxima. Acionar. E, antes mesmo de ter deixado o sistema, a nave entrou em velocidade de dobra. Todos os oficiais seniores estavam na sala de reuniões para que Sam os informasse sobre a missão. Mas, ele também gostaria de ver como seriam as primeiras reações de cada um de seus subordinados, afinal fazia poucas horas que embarcaram e ninguém se conhecia ainda. Sam estava de pé na ponta da mesa, olhando atentamente para cada um deles e depois para Hal, que fazia uma cara de impaciente com o jogo dele. - Bom dia senhores, vocês já me conhecem, sou o capitão Sam Neil e este é o meu velho amigo e primeiro oficial, Hal Thorne. - Senhores – disse Hal, acenando com a cabeça. - Devido a nossa primeira missão, nós tivemos que pular as formalidades como a inauguração da nossa rainha, mas acho que todos ficaram satisfeitos de não termos que ficar puxando o saco de ninguém. Dito isto, eu gostaria de fazer uma breve apresentação de cada um de vocês. Alferes Jill Blythe, nossa navegadora chefe. Pelo que eu vi mais cedo, creio que você tem o que precisa para o trabalho. - Eu não tenho medo de sair por aí encontrando problemas, se é isso que o senhor quis dizer, capitão. - É exatamente isso, alferes, é tudo o que eu preciso em um navegador. Agora, nosso chefe de operações, tenente comandante Tallan. - Assim como nossa colega tão ‘energeticamente’ apontou, eu também estou pronto para nossa missão. Apesar de esta ser uma classe nova de nave estelar, eu já estou familiarizado com seus sistemas e pronto para configurá-los para uma maior eficiência – disse o andoriano, quase esnobando a nave. - Assim espero, comandante. Tenente Junior Juliet Brenan, como se sente sendo a cientista chefe? – dirigiu-se à jovem meio trill sentada na última cadeira. Ela olhou para todos um pouco sem graça e disse, tentando disfarçar o nervosismo: - Estou muito feliz, capitão. - E não estamos todos? Talvez não o nosso engenheiro chefe, tenente Torek. O vulcano levantou uma sobrancelha e decidiu falar. - Sua conclusão é lógica, capitão. A única coisa que posso dizer é que estou satisfeito com meu posto e pronto para iniciar minhas funções. - Creio que sim, tenente. Nosso oficial tático e chefe da segurança, tenente Kron. O senhor foi muito bem recomendado. - Obrigado senhor, irei provar ao senhor que mereci essas recomendações e honrarei minha função, senhor – disse o grande klingon que parecia estar alerta todo o tempo. - Acredito que não irão faltar oportunidades para isso, tenente. E, por último, o nosso médico chefe é o doutor Robert Marcus. - Os últimos serão os primeiros, não é capitão? Bom, acho que não estou bravo, convencido, feliz, indiferente ou enrugado, mas pronto para fechar uns buracos e colar uns ossos – disse o médico, terminando com um sorriso. Todos olharam para ele mostrando pouca satisfação com seu comentário, mas aquele não era o momento para responder ao médico. - Agora que todos já foram apresentados, está na hora de informá-los de nossa missão e do porquê de termos quase saído correndo da Deep Babylon. Nas últimas semanas, diversos planetas não pertencentes ao Domo foram atacados em sua fronteira. E, quando eu digo ‘atacados’, eu quero dizer completamente destruídos. Não há nenhum registro ou indício que nos diga quem é o autor ou autores desses ataques, muito menos os motivos. Muitos desses mundos na fronteira estão pressionando o Domo e a Federação para tomarem alguma atitude, principalmente a Federação por causa de sua política de apoio a qualquer um que queira ser seu amigo. Nossa missão é simples: temos que descobrir quem é o responsável pelos ataques. - E se o encontrarmos não devemos destruí-lo? – perguntou Kron. - Essa não é a nossa briga tenente, pense nessa missão mais como diplomática do que investigativa – disse Hal. - Isso é muito conveniente: vamos lá, descobrimos quem são os bandidos e não fazemos nada a respeito. Isso é tão típico – disse Jill, irritada. - Isso é política – corrigiu Sam – Como uma grande potência nesta galáxia, a Federação não pode simplesmente ficar parada. A Frota Estelar está presente em diversos territórios aliados e neutros e, se quisermos continuar com esse privilégio que ninguém mais tem, teremos que fazer esse tipo de boa ação. - O único problema é que ninguém tem nenhum tipo de informação sobre esses ataques, a não ser que eles aconteceram. Há quem diga que esses planetas estão fingindo isso para conseguir proteção da Frota Estelar sem precisar se aliar com a Federação. - Isso é como fingir que está doente para não ter de ir para a escola. Sempre funciona – disse o médico. - É isso que vamos descobrir, doutor. Alferes, qual a estimativa de chegada na fronteira do Domo? - Na atual velocidade, seis dias. - Muito bem, vocês têm seis dias para se acostumarem com a nave, seus subordinados e vocês mesmos. Dispensados. Os oficias se retiram em silêncio, ficando apenas Sam, que observou-os ir com um sorriso, e Hal, que observava Sam com a testa enrugada de preocupação. - Eles estarão se matando em seis dias – disse Hal. - Dê-lhes uma chance, Hal. Precisamos deles para resolver esse mistério. - O mistério é seu, Sam. Por mim, eu daria algumas voltar por aquela região, faria um relatório e deixaria que os políticos resolvessem isso. - Ou descobrimos quem está por detrás disso e recebemos uma bela condecoração. - Maravilha. Vou trabalhar na escala de turnos. Hal saiu, mas Sam ficou ali olhando pela janela as estrelas, ansioso para chegar logo ao seu destino. * Diário de bordo, data estelar 2410.0311. Após um pouco mais de uma semana nós estamos chegando ao nosso destino: sistema Reynas, na fronteira do espaço do Domo e dos territórios neutros. Durante este tempo a Queen Elizabeth superou todas as minhas expectativas de desempenho, a engenharia relata que foram necessários poucos ajustes para que ela ficasse com sua eficiência máxima. Já a tripulação ainda não teve tempo para se conhecer melhor, os oficiais estão muito ocupados em se familiarizarem com a nave e seus sistemas, mas eu creio que assim que iniciarmos a missão poderei ver o verdadeiro potencial de cada um. Sam entrou na ponte aquela manhã com um sorriso, finalmente estavam chegando ao seu destino e não via a hora de iniciarem as investigações. Hal estava na cadeira de comando e se levantou ao ver o capitão chegando, este cumprimentou o amigo e sentou-se em sua cadeira. - Capitão, estamos entrando no sistema Reynas – disse a navegadora. - Diminuir para velocidade de impulso. Senhorita Brenan, quais são os dados que temos sobre este sistema? - Sim, de acordo com os registros este foi o primeiro sistema a ser atacado, o planeta Reynas III foi completamente destruído. Ele era uma colônia dos Vuzelas, um grupo independente de aquarianos que se estabeleceu neste setor. - Leme, leve-nos para Reynas III. - Sim, senhor. - Capitão, devido aos recentes ataques acontecidos neste setor, recomendo que mantenhamos o alerta amarelo durante nossa missão – sugeriu o klingon. - Negativo, senhor Kron, não temos motivos para crer que o atacante ainda esteja aqui, além disso, não houve relatos de ataques a naves. - Como o senhor desejar – respondeu o klingon, não muito satisfeito. Em pouco tempo a Queen Elizabeth assumiu órbita padrão de Reynas III. Era um planeta árido e sem nenhum traço de civilização nele. - Análise, tenente Brenan. - De acordo com os sensores o planeta foi atacado por armas de partículas de alta concentração há pouco mais de um mês. - Preciso de algo mais do que isso – disse o capitão. - Desculpe-me, senhor, mas o disparo de tal arma deixou a atmosfera do planeta com excesso de cargas negativas que interferem nos sensores. Além disso, a assinatura energética da arma não corresponde com nenhuma de nosso banco de dados. - Capitão, se enviarmos um grupo avançado ao planeta poderemos colher amostras de solo e do ar para realizarmos uma análise mais apurada – disse Kron. O chefe de operações, Tallan, abriu um leve sorriso de surpresa ao ver que o klingon era mais inteligente do que aparentava. - Você tem razão, tenente, apronte-se, vamos descer. - Capitão, o regulamento da Frota Estelar... – Juliet é bruscamente interrompida por Hal. - Você vai citar o regulamento da Frota para um capitão, mocinha? – disse Hal, olhando nos olhos de Juliet e deixando-a vermelha. - Acho que ela só queria lembrar que, nesse tipo de situação, é necessário um cientista. Vamos, tenente. Hal, tome conta de tudo. - Boa caçada – disse Hal, sentando-se na cadeira de comando e pensando que provavelmente aquela missão iria se resumir a colher terra de vários planetas e chegar a conclusão de que tudo é feito de poeira. Na superfície de Reynas, o grupo formado pelo capitão Neill, o tenente Kron, a tenente Brenan e mais três seguranças se materializou. O ambiente era seco e sem sinais de vegetação ou formas de vida, o terreno era arenoso e com pequenas dunas. O sol brilhava forte e refletia no chão, incomodando um pouco a vista. - Devia ter trazido meus óculos de sol – disse o capitão, colocando a mão para tapar os olhos. Enquanto o capitão olhava ao seu redor a tenente Brenan colhia amostras de solo e o tenente Kron realizava sondagens com seu tricorder. - Não era exatamente o que eu esperava – disse o capitão decepcionado. - Realmente, senhor, este planeta era de classe M antes de ser atacado, mas depois tudo o que foi atingido foi pulverizado, causando um grande desequilíbrio no planeta. - Senhor Kron, o que pode me dizer? - Pelo padrão do dano posso dizer que foi um ataque único, apenas um disparo contínuo. - Capitão... – disse Juliet, não querendo interromper – O ataque foi realizado por um tipo de phaser muito poderoso. - Um phaser? Bom, nossa nave também pode destruir cidades inteiras de órbita. - Mas, senhor, esse phaser pulverizou tudo. A amostra de solo indica a presença de compostos orgânicos e minerais em proporções que mostram que estamos pisando nos restos da cidade e em tudo o que havia nela. - Capitão, este tipo de ataque sugere que nosso inimigo é ainda mais poderoso e perigoso do que imaginávamos. - Acho que já temos informação suficiente para continuarmos nossas pesquisas. Grupo avançado para Queen Elizabeth, todos para subir – ordenou o capitão. Sam olhava para a tela principal quando a nave deixou a órbita de mais um planeta. Ele tentava entender aqueles ataques aparentemente aleatórios, mas frequentes, o que estava levando-o a pensar na possibilidade de Hal estar certo e tudo não passar de um plano para alguns planetas entrarem para o Domo ou a Federação sem terem que ceder em alguma coisa, ou apenas conseguir sua proteção. - Capitão – disse o andoriano chefe de operações – terminei minhas análises dos sensores e não encontrei nenhum vestígio deixado pela nave em nenhum dos sistemas. - Viu, mais uma prova de que tudo isso não passa de uma encenação desses aproveitadores! – exclamou Hal. - Na verdade, comandante, isso pode indicar que a nave que procuramos pode ser mais avançada do que esperamos ou utiliza um sistema de propulsão desconhecido para nós. Procurei por anomalias que pudessem indicar outros métodos de propulsão, mas o resultado também foi negativo. Trabalho agora em um modo de aumentar a eficiência dos sensores para tentar melhorar os resultados – Tallan disse a última parte de sua fala com o olhar distante, como se apenas ele pudesse ver a grandeza do seu trabalho em aumentar a eficiência dos sensores de uma nave recém-construída. - Senhores, sinto que não estamos indo a lugar nenhum. Temos apenas um punhado de areia e muitas suposições até agora. Preciso de algo mais concreto, uma pista, qualquer coisa que nos ajude a localizar a nave ou, pelo menos, adivinhar seu próximo ataque. Fez-se um breve silêncio na ponte enquanto todos pensaram em alguma solução para o problema. Apenas a tenente Brenan estava inquieta, ela olhou para os lados, corou e resolveu falar: - Capitão, acho que sei onde será o próximo ataque – disse, envergonhada por todos terem olhado para ela. - É mesmo? Então, por favor, diga-nos tenente! - Depois de verificar todos os dados obtidos, eu tentei estabelecer um padrão, mas a única coisa que encontrei foi uma aparente sequência na ordem de planetas atacados. Eu pensei que era apenas coincidência, por isso não disse nada antes. - Mocinha, você tem que aprender a falar! Se você não tivesse dito isso poderíamos ter passado mais duas semanas colhendo areia! – esbravejou Hal. - Deixe ela em paz, ela não tem culpa de não ter adivinhado isso na hora – disse Jill, tomando as dores de Juliet. - E você tem que aprender a respeitar seus oficiais superiores! - Senhores, por favor. Deixem que a tenente Brenan termine. Todos ficaram quietos e se voltaram para Juliet. - Como todos os planetas atacados são colônias de outros mundos, creio que o próximo ataque será no sistema Rubic, onde há uma colônia de um planeta que ainda não foi atacado. Pela diferença de tempo entre os ataques acredito que nossa nave misteriosa deve aparecer nas próximas quarenta e oito horas – ela disse tudo aquilo como se fosse culpada e estivesse se confessando. Na verdade, Juliet ainda não se sentia tão à vontade em ser uma oficial da ponte e falar diretamente com o capitão e outros oficiais seniores. - Alferes Blythe, traçar curso para o sistema Rubic, dobra máxima. Ativar! – Sam estava excitado, finalmente uma pista mais concreta a seguir. Assim que todos tomaram suas posições e ficaram concentrados em suas tarefas, Sam olhou para Juliet, que estava calada e meio triste em seu posto, então ele piscou o olho para ela e deu um sorriso de agradecimento. Ela ficou sem graça, mas por dentro estava muito feliz de ter feito algo que o capitão gostou. Depois de algumas horas viajando em velocidade máxima, a Queen Elizabeth chegou ao sistema Rubic e dirigiu-se à colônia existente lá. - Alferes, leve-nos para próximo do planeta, mas não entre em órbita. - Sim, senhor. - Abrir frequências de saudação. - Frequências abertas – respondeu Tallan. - Aqui é o capitão Sam Neill da nave estelar da Federação Queen Elizabeth. Eu requisito poder conversar com o responsável pela colônia. Sam ficou em pé durante alguns minutos enquanto esperava uma resposta, até que finalmente um alien com aparência de cachorro apareceu na tela principal. - Eu sou Samus Nim Plumus, administrador da colônia. Qual o objetivo desta visita, capitão? - Senhor Plumus, nós fomos enviados para investigar uma série de ataques que vêm ocorrendo neste setor no último mês. Várias colônias forma destruídas e temos razões para acreditar que o seu planeta seja o próximo alvo. - Senhor Plumus, o seu planeta tem o mesmo perfil de outros planetas atacados. - Eu entendo a sua relutância em acreditar, mas nós temos dados que podem provar o perigo que vocês correm. - Nós não sabemos ainda, estamos investigando a autoria. Sabemos, no entanto, que se trata de uma força poderosa e que não distingue o seu governo de outros. - Acredito que a melhor medida de prevenção seria evacuar sua colônia e... - Capitão, o senhor quer que eu evacue mais de cinquenta milhões de pessoas apenas por causa de uma suspeita de ataque de alguém que você nem sabe quem é? – interrompeu Plumus. - Senhor Plumus, entendo a sua relutância, mas nós apenas queremos ajudar. - Creio que não há tempo para isso, mas nós continuaremos monitorando o seu sistema nas próximas horas. O canal de comunicação é fechado e a tela principal voltou a mostrar a imagem do planeta logo à frente deles. - E agora, Sam? – perguntou Hal. - Vamos ficar um tempo aqui, se nada acontecer partiremos para o próximo alvo em potencial. Alferes, marque um curso de patrulha no sistema. - Sim, senhor. - Tenente Kron, quero os sensores no máximo. - Capitão, com a melhoria na eficiência dos sensores que eu implementei poderemos... – disse Tallan, mas foi interrompido por Kron, que parecia surpreso. - Capitão, uma nave se aproxima do planeta em velocidade de dobra! - Alferes, marcar curso de interceptação. - Sim senhor! – Jill ficou animada com a possibilidade de um pouco de ação. A Queen Elizabeth foi em velocidade máxima de impulso em direção ao planeta e se aproximou de uma grande nave que acabara de sair de dobra. Era uma nave com quase o dobro do seu tamanho, o casco era avermelhado e seu formato lembrava o de um caranguejo. - Alerta amarelo. Análise tática tenente. - Capitão, de acordo com o banco de dados, essa nave é dos Forasteiros. Seu modelo se encaixa em uma das diversas naves de uma frota forasteira que apareceu diante da Deep Babylon há alguns anos. - Droga, forasteiros... Isso é pior do que eu pensava – resmungou Hal. - Abra frequên... - Eles estão carregando as armas principais, estão mirando em nós! – exclamou Kron. - Manobras evasivas! Jill mal teve tempo de acionar os motores de impulso. Eles conseguiram virar apenas poucos graus quando um enorme feixe de luz amarela saiu do que parecia ser o disco defletor da nave forasteira e atingiu em cheio a Queen Elizabeth. O disparo balançou a nave com violência, as luzes piscaram e Jill tentou colocá-los em um ponto fora de alcance daquela arma. - Relatório. - Escudos de estibordo caíram para sessenta e três por cento – respondeu Kron. - Revidar fogo. Dispare tudo o que tivermos. Eles começaram a atirar com os phasers e torpedos, mas os ataques não conseguiam enfraquecer os escudos. Por outro lado, a nave forasteira estava acertando diversos tiros, por mais que Jill tentasse manobrar a nave. - Capitão, os ataques deles estão drenando nossos escudos mais rápido do que eles podem se regenerar – informou Tallan. - Droga, Sam, não vamos dar conta deles – reclamou Hal. - Não podemos deixar que eles destruam a colônia – argumentou Sam. - Não podemos deixar que eles nos destruam! Sam sabia que Hal tinha razão, os escudos não aguentariam muito tempo e eles não resistiriam a outro tiro da arma principal deles. Aquele era um problema para o qual Sam só via uma alternativa: eles teriam que se sacrificar para impedir que a colônia fosse destruída. Mas, antes mesmo dele dar qualquer ordem, a Queen Elizabeth estava virando para poder voltar e atacar quando Kron disse algo que fez seu sangue klingon gelar. - Capitão, os escudos de bombordo foram desativados! Sam correu para o posto de Kron, numa tentativa de descobrir o que estava acontecendo e religar os escudos a qualquer custo, mas o computador não aceitava a ordem. Jill tentou virar a nave horizontalmente e tirar a área exposta da linha de fogo, mas não houve tempo. A nave forasteira disparou todos os seus phasers e torpedos, atingindo em cheio a seção de engenharia com três torpedos e os phasers na nacele de dobra e na seção disco. Todos foram jogados ao chão e diversos painéis explodiram, as luzes de emergência se acenderam e a nave começou a adernar para estibordo. Havia fogo e dezenas de feridos espalhados pela nave. Na engenharia, conduítes de plasma explodiram e diversas áreas tiveram que ser evacuadas. Os canais de comunicação ficaram congestionados de tantas chamadas de emergência. À deriva no espaço, a Queen Elizabeth estava à mercê de um novo ataque. - Relatório de danos – disse Sam, depois de se apoiar em sua cadeira para ficar de pé. Os oficiais da ponte estavam todos machucados e muitos terminais estavam danificados ou não funcionando corretamente. Ele viu que a tenente Brenan estava inconsciente no chão com uma ferida na cabeça e uma barra de metal sobre seu peito. Tentou ajudá-la, mas sentiu uma dor forte em seu calcanhar e notou que todo seu corpo doía. Hal bateu em seu ombro para que ele ficasse ali enquanto cuidaria de Juliet. - Perdemos a força principal, armas e escudos se foram. Temos metade de força de impulso, sensores e suporte de vida no mínimo. Motores de dobra avariados e rupturas no casco em diversos decks – informou Tallan, preocupado com suas antenas que doíam. - Capitão, a nave forasteira está carregando sua arma principal – informou Kron, que estava em pé em seu posto como se nada tivesse acontecido, no melhor estilo de guerreiro klingon. - Capitão, não temos força suficiente para sairmos do alcance da arma – disse Jill, que estava dolorida depois de ter voado por cima do console de navegação. - Ponte para engenharia, preciso de toda força de emergência para os motores de dobra – ordenou o capitão. - Senhor, os motores de dobra estão avariados e não temos força suficiente para deixarmos o sistema – respondeu o vulcano. - Apenas faça, tenente! Alferes, tire-nos daqui, leve-nos o mais longe que conseguir. - Sim, senhor. - A nave forasteira vai disparar a arma a qualquer momento – informou Kron. - Agora, Blythe! - Capitão, ainda não temos energia o suficiente, preciso de mais tempo. - Senhor, sei como ganhar tempo. Se abrirmos fogo com os phasers no modo de multi-frequência poderemos encontrar a frequência dos escudos deles e atirar, dando-nos tempo para escapar – disse Kron. - Isso vai exigir toda a energia que precisamos para escapar – contrariou Tallan. - Sim, mas se não tentarmos isso não conseguiremos escapar, vamos morrer como covardes. - Melhor um covarde vivo do que um corajoso morto – disse Jill com discrição, mas Kron decidiu não ouvir. - Você tem razão, tenente, realize um disparo multi-frequência e ordene para que a sala de torpedos fique pronta para disparar ao nosso comando. - Sim senhor – e Kron começou a trabalhar nos phasers. A nave forasteira aproximava-se sem pressa, em pouco tempo sua arma principal estaria carregada e a nave da Federação seria destruída. Foi então que a Queen Elizabeth disparou um phaser contínuo de baixa intensidade. O modo de disparo multi-frequência é uma forma de, através de uma modulação contínua da frequência dos phasers, descobrir a frequência dos escudos de uma nave inimiga e, assim, atacar de modo que os seus escudos sejam inúteis. Kron olhou em seu console a modulação do phaser iniciando de uma frequência mais baixa e indo até a mais alta, mas depois de quase um minuto de disparo contínuo não houve resultados. Todos na ponte estavam aflitos, pois se não fosse descoberta a frequência em tempo, eles seriam destruídos. Até que os sensores de alvo travaram em uma frequência específica, quando o feixe atravessou os escudos da outra nave. Imediatamente, a Queen Elizabeth disparou seis torpedos quânticos ajustados na frequência obtida. Eles fizeram uma curva aberta em direção à nave forasteira, atravessaram seus escudos como se eles não existissem e atingiram em cheio o alvo, causando grandes explosões. Aquilo, com certeza, pegou os forasteiros de surpresa, pois naquele momento eles também estavam indefesos e sem poder contra-atacar. Todos na ponte sentiram um prazer enorme em ver a nave forasteira ser atingida daquele jeito, aquela nova arma da Frota Estelar realmente era muito útil. - Capitão, temos energia para entrarmos em dobra – informou Jill. - Acionar, alferes. A Queen Elizabeth entrou em velocidade de dobra um, mas ela chacoalhava muito, pois, devido aos danos extensos, os motores estavam em seu máximo. - Alerta: integridade estrutural crítica – disse a voz do computador. - Só mais um pouco, sua preguiçosa – reclamou Jill. Mas, antes da nave se partir em vários pedaços pela perda da integridade estrutural, os motores não aguentaram, desligaram-se e começaram a vazar plasma de dobra, deixando um rastro por onde a nave passou. Eles pararam próximos a um gigante gasoso com anéis, igual Saturno. - Engenharia para ponte. Capitão, gastamos quase toda nossa força reserva e os motores de dobra estão inoperantes – informou o engenheiro chefe Torek. - Concentre-se nos reparos imediatos, tenente, não vamos precisar dos motores agora. - Mas vamos precisar logo, os forasteiros não vão ficar lá para sempre. Além de seguirem nossa assinatura de dobra, também estamos deixando um rastro de plasma para eles nos seguirem – disse Hal. - Eu sei disso, Hal, mas vamos fazer cada coisa em sua hora. Alferes, leve-nos para o cinturão de asteroides para nos escondermos. - Entendido – respondeu Jill, mas ela tinha uma opinião melhor sobre o que fazer e decidiu implementá-la. A Queen Elizabeth foi em direção ao cinturão de asteroides do gigante gasoso, mas ao invés de entrar nele, ela passou direto e entrou em sua atmosfera. - Alferes, o que você pensa que está fazendo? Você recebeu uma ordem, agora tire-nos daqui antes que fiquemos presos em alguma corrente atmosférica e não consigamos sair – disse Hal, irritado. - Desculpe-me, comandante, mas o cinturão de asteroides não era o melhor lugar para nos escondermos. Além disso, corríamos muito mais risco lá do que aqui. - Então, na próxima vez peça permissão antes de não seguir uma ordem expressa do seu capitão. - Calma, Hal, ela fez bem, os forasteiros terão muito trabalho para nos encontrar na atmosfera desse planeta, assim teremos tempo suficiente para cuidar dos reparos. Mas, da próxima vez, alferes, avise-nos de seus planos se não for realmente uma emergência – disse Hal, num tom calmo, mas firme. Eles estavam no olho do furacão, não tinham como fugir ou lutar, só podiam ficar escondidos até que seus reparos fossem concluídos, o que poderia levar dias. Mas, nada daquilo importava para Sam, pois havia outro mistério a ser resolvido, talvez mais importante do que a missão, e esse ele resolveria nem que fosse a última coisa de sua vida. - Senhores, agora que estamos a salvo, por enquanto, eu gostaria de saber por quê, com quê e quem abaixou nossos escudos? Não houve resposta, todos apenas se entreolharam e esperaram que a resposta não fosse algo tão terrível como deveria ser. Quando o silêncio havia se tornado constrangedor o suficiente, Sam decidiu falar. - Ninguém? Escudos de naves estelares não se desligam sozinhos no meio de uma batalha. Respondam minha pergunta, é uma ordem. - Capitão, como oficial tático posso dizer que seja quem for o responsável, esse alguém impediu que eu religasse os escudos, assim como o senhor pôde ver no momento do ataque – disse Kron, tentando não demonstrar raiva por um klingon ser pego naquela situação. - Capitão, acredito que uma simples olhada nos registros do computador possa esclarecer quem fez isso. Seria impossível esconder tal tipo de dado, ainda mais comigo monitorando os sistemas – disse Tallan, quase que tendo uma premonição sobre o seu papel decisivo na descoberta do culpado. - Então veja logo isso, não quero que ninguém comece a encontrar culpados sem motivos – disse Jill, olhando para Hal. - Certamente – Tallan foi até o seu terminal e em pouco tempo mostrou na tela principal os registros do computador que indicavam o comando de abaixar os escudos no momento do ataque – Como podem ver, os registros mostram, sem sombra de dúvidas, que o tenente Torek desligou os escudos da engenharia. Este é o seu código de acesso e podemos ver que o comando foi feito de um terminal localizado na engenharia. - O vulcano terá que responder por isso! – esbravejou Kron. - Esperem um pouco, qualquer um aqui poderia ter modificado os registros – disse Jill. - Acho isso muito improvável, alferes, eu sei do que eu falo, afinal conheço os sistemas dessa nave melhor do que ninguém. Esse tipo de modificação nos dados seria facilmente descoberta – replicou Tallan, mostrando para todos como era bom possuir um intelecto superior. - Claro que sim, a não ser que você mesmo tenha alterado o registro – disse Jill, olhando para Tallan com desdém. - Como se atreve a dizer que eu... - Parem com isso, vamos resolver isso um passo de cada vez – interrompeu Hal. - Você tem razão, Hal. Vamos resolver isso agora. Precisamos estar todos reunidos – então Sam tocou em seu comunicador – Tenente Torek, apresente-se imediatamente na enfermaria. Sam andou em direção ao turboelevador e viu que todos ainda estavam parados ali. - O que estão todos esperando aí? Vamos ficar juntos até resolvermos isso – e entrou no turboelevador. Os oficiais seniores da Queen Elizabeth entraram na enfermaria, que estava cheia de feridos do ataque sofrido. A cena não era bonita: homens e mulheres com queimaduras graves, sangramentos e ossos quebrados. A nave poderia estar em péssimas condições, mas os pacificadores conseguiram deixar a tripulação igualmente incapacitada. Sam foi ao encontro do doutor Patrick, Hal vinha logo atrás dele com Juliet em seus braços, já que ela ainda estava inconsciente da batalha. Os outros oficiais ficaram parados ao lado, inclusive Torek, que acabara de chegar. - Uau, estamos tendo uma festa? E uma das boas pela condição dessa menina – disse Robert, olhando para Juliet. - Doutor, cuide dela. Qual a situação atual? – perguntou Sam. - Suave na nave, capitão. A não ser pela dezena de feridos graves e mais uma centena de ferimentos leves. Mas, vamos sobreviver. Agora vamos ver como ela está. O doutor Patrick colocou Juliet em um leito e começou a examiná-la. Usou um regenerador em sua testa, depois aplicou-lhe algo para a dor e fez mais uma sondagem completa antes de voltar a falar com o capitão. Enquanto isso todos observavam em silêncio, embora estivessem preocupados com a possibilidade de existir um espião entre eles. - Ela vai ficar bem, foi apenas uma concussão. Agora, será que eu poderia saber o motivo dessa reunião na enfermaria? Não seria uma festa mesmo, seria? - Isso não é hora de piadas, doutor – reclamou Hal. - Muito bem senhores, como todos sabem os escudos da Queen Elizabeth foram desligados no meio da batalha, o que quase causou nossa destruição. Esse tipo de procedimento só poderia ser feito por um oficial sênior. Agora que todos estamos aqui será que alguém gostaria de confessar algo? – perguntou Sam, na maior calma do universo. - Capitão, eu era o oficial tático no momento da batalha, eu posso garantir pela minha honra que não fui o responsável. Um klingon jamais morreria de tal maneira – disse Kron. - Senhor, como chefe de operações devo dizer que as evidências apontam para o tenente Torek – disse Tallan, orgulhoso de si. Todos olharam para Torek quase na esperança de esboçar alguma reação, mas o vulcano apenas pareceu surpreso com a alegação. - Capitão, em minha defesa eu alego que não sou responsável pelo desligamento dos escudos – disse o vulcano sem alterar seu tom de voz – Mas, posso dizer que os registros do computador podem ser alterados para que as suspeitas caiam sobre outra pessoa. - Eu também acho – disse Jill. - Você, vulcano, só porque tem toda a sua lógica não significa que seja inocente. Ninguém aqui melhor do que o engenheiro chefe para desligar os escudos – argumentou Tallan. - Ou o chefe de operações – comentou Jill. - Não se atreva a me acusar sua... – Tallan iria responder, mas Hal interrompeu. - Parem com isso! Vocês são oficiais, comecem a se comportar como tais! Antes de tudo vamos investigar se os registros foram alterados ou não. Então, veremos se é possível acusar alguém ou não. Espero que vocês não se esqueçam de que ninguém será considerado culpado antes de existirem provas do contrário. Todos ficaram calados, viram que o comportamento apresentado ali não iria contribuir em nada para a solução do problema. Sam apenas acompanhava tudo calado, gostava de ver como seus oficiais lidavam com aquela situação. Sabia que o culpado estava ali, mas a excitação do mistério não o deixava sentir raiva ou outro sentimento negativo em relação àquilo. - Muito bem – disse Hal, depois que todos estavam mais calmos – O senhor Tallan disse que os registros não poderiam ser modificados, mas também foi dito que ele, ou alguém com conhecimento equivalente, poderia ter feito isso. Vamos fazer o seguinte, Tallan, Torek e eu iremos, separadamente, ver os registros, além disso o computador fará uma análise. No final vamos comparar os quatro resultados. - E se isso não mostrar nada? – inquiriu Jill. - Então faremos outra coisa – retrucou Hal – Vamos começar logo, não temos tempos a perder. Sendo assim, cada um dos oficiais foi para um terminal de computador na enfermaria e começaram a fazer sua análise. Outros membros da tripulação observavam para garantir que ninguém estivesse fazendo nada de errado. Enquanto isso, Sam ficou perto de Juliet, que acordou um pouco assustada. - O que aconteceu? - Calma, tenente. Você está bem, está na enfermaria – disse em um tom amigável, tentando acalmá-la. - Foi apenas um susto, tenente. O pedaço de metal que a atingiu não viu que você estava embaixo – disse o doutor. - Ãh? E o que todo mundo está fazendo aqui? - Estamos tentando descobrir quem é o traidor que abaixou os escudos no meio da batalha. Diga-me, alferes, por acaso não foi você, foi? – perguntou Sam, do jeito mais banal possível. Juliet arregalou os olhos, olhou várias vezes para o capitão e depois para o doutor, tentando ver se ainda estava desacordada e aquilo tudo fosse apenas um sonho. Mas, como o sorriso de Sam não estava desaparecendo, ela percebeu que aquilo era tão real quanto a dor em sua testa que começara. - Eu não! O que está acontecendo aqui, capitão? – Juliet estava pensando que tinha batido a cabeça forte demais. Sam explicou tudo para ela, que não sabia quem poderia ser o traidor, ou se realmente havia um traidor. Talvez fosse possível que tudo aquilo não passasse de uma falha nos sistemas, pelo menos era o que ela queria acreditar. Por isso, tinha um pouco de medo do que os resultados poderiam mostrar. Depois de vários minutos a análise de todos havia terminado, eles juntaram seus resultados em padds e levaram para uma mesa. - E então? – perguntou Sam. - Tudo igual, Sam. Todas as análises mostram que os registros não foram alterados. Ou seja, de acordo com eles, o tenente Torek desligou os escudos – e todos olharam para o vulcano, que não esboçou reação. - Isso é a conclusão lógica capitão, no entanto, eu não me recordo de tal fato. Se eu tivesse consciência de que agi de tal modo não teria deixado traços no computador, o que não foi o caso. Sendo assim, a única conclusão lógica é que eu, de alguma forma, fui levado a tomar tal ação contra minha vontade. - Eu sabia! – disse Kron, indo para cima de Torek, mas foi impedido por Hal. - Isso é tão típico dos vulcanos. Primeiro não assumem a responsabilidade de nada, mas depois dizem que foi algo além de seu controle – disse Tallan. - Este não é o comportamento dos vulcanos, a lógica nos ensina... – disse Torek, sendo interrompido por Hal. - Não importa o que a lógica diz agora. Só o quero saber é, já que os registros apontam o senhor como culpado, como o senhor pode ter sido levado a fazer isso? - Como eu não guardo lembranças disso, só há duas hipóteses: controle mental ou físico. Seja qual for, serão necessários exames médicos para comprovar o que pode ter ocorrido comigo. - Você não vai escapar dessa tão fácil, vulcano! – exclamou Tallan. -Muito bem, senhores, vamos ter calma agora. Apesar de tudo, o tenente Torek está certo, se ele não se lembra de que fez... – dizia Sam, até ser interrompido por Jill. - Muito conveniente para ele, não é? - Como ele não se lembra do que fez – continuou Sam, em um tom mais alto – temos que investigar a hipótese levantada por ele. Por isso, ele e todos aqui serão testados pelo doutor Patrick e, como contraprova, pelo holograma médico de emergência. - Que tipo de testes o senhor quer exatamente, capitão? – perguntou o doutor. - Todos. Faça o que for possível para confirmar nossa identidade e para verificar se não estamos sob algum tipo de influência. - Está bem. Você será o primeiro, vulcano, começaremos com uma dissecação – disse o doutor, animado. Torek apenas olhou o médico e ergueu uma de suas sobrancelhas, o que tirou o sorriso do doutor. - Pelo visto o seu sendo de humor continua igual. Todos se preparem para eu recolher amostras. - Que tipo de amostras? – perguntou Kron de forma agressiva. - Todos os tipos. Kron não demonstrou estar feliz com aquilo e Patrick fez uma nota mental de evitar fazer piadas para klingons, ainda mais ele que tinha consciência médica das consequências. Testar todos os oficiais seniores, de todos os meios possíveis, era algo demorado. Por isso, como eles não podiam abandonar o trabalho, todos tiveram que executar suas tarefas a partir da enfermaria. A Queen Elizabeth estava muito avariada, o conserto, que já era uma tarefa difícil em condições normais, era quase impossível dentro de um gigante gasoso. Enquanto todos trabalhavam, Sam estava sentado na sala do médico chefe lendo alguns padds, mas sua mente estava mais concentrada nos dois grandes mistérios da missão e no que isso implicava. Hal entrou na sala carregando dois copos e uma garrafa. Ele colocou os copos em cima da mesa e os encheu com uma bebida azul, depois entregou um copo para Sam. - Cerveja romulana? – disse Sam, pegando o copo. - Bom, se essas são nossas últimas horas vivos, seja pelo risco de não sairmos desse planeta, seja pelos forasteiros ou pelo traidor que ainda pode sabotar algo, então acho que eu, pelo menos, mereço algo para relaxar – e ele tomou um pequeno gole da bebida que queimava até os dedos dos pés. - Achava que cerveja romulana fosse ilegal. - E é. Mas eu conheci uma mulher em Risa que me ensinou uns truques no sintetizador – Hal tomou um gole e depois ficou sério – Diga-me, Sam, o que você quer fazer se Torek for realmente um traidor? Mesmo que ele tenha sido coagido de alguma forma. - Farei o que deve ser feito, Hal. Mas, não era essa a resposta que eu queria encontrar, teria sido muito melhor ter encontrado um espião disfarçado. - Ninguém mais faz como nos velhos tempos – e Hal tomou mais um gole. - Verdade. Acho melhor eu parar antes que fique com dor de cabeça – disse Sam, dando o último gole. - Dor de cabeça? Garanto que ela será menor do que do problema lá de fora. - Nesse caso, melhor mais uma dose! Os dois encheram mais um copo e começaram a conversar sobre velhas histórias, como o que aconteceu com a última nave de Sam e sobre a viagem de Hal para Risa, ambos os assuntos nunca completamente esclarecidos pelos dois. Algumas horas depois, todos já estavam cansados de ficarem na enfermaria, ainda mais quando a nave precisava da atenção deles de forma mais atuante. Quando o doutor Patrick chegou com os resultados ele parecia cansado, afinal com todos os recursos da nave desviados para os reparos não era fácil fazer todos os testes possíveis. Todos se reuniram na sala dele esperando que ele começasse a falar. Ele limpou a garganta, arrumou o uniforme e colocou um padd em cima da mesa antes de começar a falar. - E nós temos um vencedor! – disse o médico, com animação demais. Como os outros não corresponderam ao seu entusiasmo – Bom, quero dizer que de todos os testes que eu realizei e, acreditem, foram muitos, apenas um teve um resultado diferente. Todos ficaram esperando ele responder até que Kron explodiu e gritou com ele: - Diga logo o maldito resultado! – disse com tanto vigor que seu hálito permaneceria na lembrança de Patrick por muito tempo. - Resumindo, depois de todos os exames e testes eu não encontrei nada de anormal, apenas colesterol elevado no comandante Thorne e coisas assim. Por isso, decidi fazer exames mais específicos até realizar uma análise do DNA, sequência por sequência. O resultado foi surpreendente, o tenente Torek não é o tenente Torek! Todos ficaram surpresos e olharam para Torek, que não esboçou reação maior do que uma sobrancelha levantada. - Por favor, doutor, poderia explicitar melhor a sua definição? – disse o vulcano. - Com prazer! O senhor Torek é um tipo de clone... - Como assim “um tipo”? – indagou Jill. - Um clone, por si só, não é uma cópia exata da pessoa. Ele não carrega as marcas do tempo, o estilo de vida da pessoa, seu sistema não carrega marcas de imunização, entre muitas outras coisas. Mas, no tenente Torek havia tudo isso. - Não compreendo, doutor. Se ele possui tudo isso, então como o senhor pode afirmar que ele é um clone? – perguntou Juliet, questionando com seu lado cientista. - Simples, o DNA do Torek é feito com moléculas sintéticas, descobri isso com um teste de isótopos que, acreditem, não foi fácil fazer. A diferença é quase imperceptível, exceto que as informações de um Torek adulto já estavam codificadas em seu DNA, ou seja, ele foi construído para ser igual a Torek em nível molecular – o doutor disse tudo aquilo com muita animação. Várias ideias passavam pela cabeça de Sam sobre a implicância de tudo aquilo, mas, no momento, era preciso responder a uma pergunta. - Doutor – disse o capitão – o senhor tem certeza disso? - Absoluta, o HME fez os mesmos testes e chegou a mesma conclusão. - Pois bem, nesse caso, quem criou esse Torek e onde está o original? – questionou Sam. - Bom... Eu não sei. Todos ficaram em silêncio por um instante e depois olharam para Torek, esperando uma explicação, qualquer que fosse. - A lógica diz que excluídas todas as hipóteses possíveis, as impossíveis, por mais improváveis, são possíveis. - Então vamos fazer você falar tudo o que sabe, nem que eu tenha que arrancar as respostas de você! – disse Kron, indo para cima de Torek. - Espere, tenente. Senhor Torek, infelizmente o senhor está preso. Você será conduzido a uma cela, onde passará por um interrogatório. Se não puder responder a nada, a segurança da Frota Estelar vai ser mais rígida quando assumir o caso. - Eu entendo completamente, capitão. Sinto muito por tudo o que causei. - É melhor você sentir mesmo, vulcano – disse Tallan. Kron sacou seu phaser e segurou Torek pelo braço, ordenou que ele o acompanhasse para a segurança. Mas, em um rápido movimento, Torek torceu o braço de Kron, fazendo-o derrubar sua arma e, em seguida, jogou-o para cima de Tallan, derrubando os dois. Depois disso, ele saiu correndo da enfermaria. - Tenente Kron para segurança, alerta de segurança! Capturem o tenente Torek, ativem os campos de força e parem os turboelevadores! – disse, após tocar em seu comunicador, em seguida se apoiou em Tallan para ficar de pé. - Tenente, lembre-se de que precisamos dele vivo – ordenou Sam. - Sim senhor – respondeu – Mas não posso garantir nada – disse para si mesmo enquanto saía correndo da enfermaria. Os outros foram atrás de Kron, afinal também queriam que Torek fosse capturado. Sam, porém, estava preocupado com outra coisa, não haveria lugar para ele fugir, uma nave auxiliar não teria chances contra a atmosfera do gigante gasoso ou do raio trator, então qual era o plano de Torek? Mas, eles após poucos metros eles se depararam com um campo de força e o comunicador de Torek no chão. Como oficial da Frota e engenheiro chefe ele tinha os conhecimentos para burlar os sistemas de segurança da nave. - Kron para segurança. Torek está sem seu comunicador, ative todos os campos de força e o holograma de segurança de emergência. – Kron sabia que agora Torek não tinha chances, ninguém escapava do HSE, também conhecido como Lucy. - Senhor, os sistemas holográficos foram desativados e há um turboelevador em curso não autorizado para o deck da engenharia – respondeu a segurança. - Quero todas as equipes disponíveis para a engenharia. Trave transporte ponto a ponto de toda a equipe sênior para a engenharia. Todos foram teletransportados para a engenharia e se depararam com vários oficiais correndo e disparos phaser sendo feitos. Kron foi se aproximar, mas Torek já havia iniciado o isolamento da engenharia central com as portas de contenção de emergência, ficando trancado na sala do reator. Tallan foi até o terminal de computador mais próximo e começou a digitar, até que voltou-se para o capitão. - Capitão, Torek está tentando ativar a autodestruição! - Computador, bloquear todos os códigos de comando. Autorização Neil Capa Delta seis. - Códigos de comando bloqueados – disse a voz do computador. - Senhor, isso vai restringir o acesso dele, mas ainda há muito estrago que ele pode fazer lá dentro – disse Tallan. Nesse momento vários seguranças chegaram fortemente armados e cercaram todas as saídas possíveis. Eles também começaram a tentar abrir manualmente as portas de isolamento. - Alerta, falha iminente nas travas magnéticas. Risco de perda de contenção da matéria e antimatéria – disse a voz do computador. - O desgraçado está tentando destruir a nave com as próprias mãos! – esbravejou Kron – Tragam-me um lançador de torpedos! - Se o campo de contenção ficar abaixo de dezesseis por cento vamos ter uma ruptura de núcleo– disse Juliet assustada. Um dos seguranças se aproximou de Kron com um lançador de torpedos, que possuía minitorpedos quânticos como munição. Ele pediu a todos que se afastassem e disparou contra a porta de isolamento. A explosão foi grande, deixando os mais próximos atordoados, mas Kron superou a dor e a desorientação e entrou na sala do reator apontando sua arma para Torek. - Acabou Torek, renda-se! – ordenou Kron. A sala foi invadida pelos seguranças, todos tendo o engenheiro chefe em suas miras. Em seguida Sam e os demais entraram. Torek estava próximo ao reator e apontava um phaser para ele. - Não disparem! – ordenou Sam – Torek, por favor, eu sei que você deve estar confuso com tudo isso, mas nós podemos te ajudar, apenas largue sua arma. Porém, Torek não tinha mais a expressão normal de um vulcano, ele estava sério e seus olhos atravessaram Sam, era como se ele estivesse agindo de modo automático. Até que sua mão começou a tremer e seu rosto mudou para uma expressão de angústia. Lentamente ele começou a levantar o braço, como se estivesse lutando contra ele mesmo, até que o phaser estava apontando para sua cabeça. - Desculpe-me, capitão – disse Torek, com uma sinceridade tão grande em sua voz que Sam gritou e correu em sua direção quando ele apertou o gatilho. Torek disparou contra ele mesmo um phaser em sua potência máxima, vaporizando-se, deixando apenas fumaça e uma marca no chão onde ele estava. Juliet deu um grito, virou-se e se apoiou em Hal enquanto cobria seu rosto. Tallan ficou estarrecido com o que viu e Jill não podia acreditar. Os seguranças e Kron abaixaram suas armas. Sam ainda estava parado olhando para a marca deixada no chão, ele parecia decepcionado. - Computador, restaurar códigos de comando. Autorização Neil Capa Delta seis. - Códigos de comando restaurados – disse a voz do computador. - Sam... – disse Hal. - Todos retornem aos seus postos, temos uma nave para consertar. Nesse momento a nave começou a tremer e o alerta vermelho soou. Todos correram para os postos de batalha e Sam chamou a ponte para que informassem o que estava acontecendo. - Senhor, a nave forasteira está atrás de nós e abrindo fogo! – disse o oficial da ponte pelo comunicador. Então eles correram para a ponte para, mais uma vez, enfrentar os forasteiros, mas dessa luta só poderia sair um vencedor. - Relatório da situação – ordenou Sam. - A nave forasteira nos encontrou e está nos perseguindo – reportou Kron. Nesse momento eles foram atingidos por diversos disparos da nave forasteira. - Escudos a trinta por cento – informou Kron. - As armas e escudos não funcionam corretamente aqui dentro, capitão. E devido ao nosso atual estado, não vamos aguentar para sempre – disse Tallan. - Vamos ter que despistá-los – disse Sam. - Vamos precisar mais do que isso, se sairmos daqui não vamos ter como nos defender dos ataques deles, se ficarmos eles vão nos vencer pelo cansaço – disse Hal. - Então vamos fazer eles se cansarem primeiro – respondeu Sam – Alferes, manobras evasivas. - Sim senhor – respondeu Jill, podendo, finalmente, pilotar aquela nave como queria. Jill acelerou e começou a fazer manobras, desviando dos disparos da nave forasteira. Por serem mais pesados e menos aerodinâmicos, os forasteiros não podiam acompanhar a Queen Elizabeth em seus movimentos rápidos, porém suas armas disparavam a todo instante, numa tentativa de causar danos e atrapalhar as manobras. - Tenente, disparar todos os torpedos de ré. Vamos ver o que eles acham de um pouco de turbulência – disse Sam. Quatro torpedos quânticos foram disparados em direção à nave forasteira, que mesmo tendo escapado de dois deles, não conseguiu evitar a onda de choque. Talvez eles não estivessem em tanta desvantagem assim. - Droga, preciso de mais potência nos motores – reclamou Jill para qualquer um que escutasse. - Estamos com o máximo possível para os motores de impulso, se forçarmos ainda mais eles poderão falhar – respondeu Tallan, pensando que a alferes deveria saber esse tipo de coisa. - Já chega de brincar de pega-pega. Jill mudou o curso da nave e acelerou tudo o que podia em uma trajetória descendente. Conforme desciam para as camadas mais baixas da atmosfera, a pressão e as correntes de ar aumentavam, tornando a navegação cada vez mais difícil. Aos poucos a nave começou a tremer. - Alferes, se continuarmos assim vamos passar do ponto de não retorno! – exclamou Sam. - Não se preocupe, comandante, o ponto de não retorno dos forasteiros será bem antes do nosso. - Capitão, se continuarmos nessa trajetória vamos entrar em um enorme furacão – avisou Juliet assustada. - Alferes... – disse Sam em um tom de alerta, mas Jill não respondeu, apenas continuou em sua trajetória. A nave forasteira os seguia na mesma velocidade e continuava a disparar. Aos poucos o pequeno balanço se transformou em grandes solavancos conforme se aproximavam do furacão. Luzes de alerta apareciam em diversas telas e todos podiam sentir frio no estômago mesmo com os amortecedores inerciais no máximo. - Cem quilômetros para o ponto de não retorno! – alertou Juliet. - Senhor, a nave forasteira não alterou seu curso – relatou Kron. - Alferes, suba imediatamente, não adianta nada escaparmos deles para sermos engolidos por esse planeta! – ordenou Sam. - Só mais um pouco... – disse Jill enquanto brigava com o leme. Faltando apenas uma dezena de quilômetros para o ponto de não retorno ela reverteu os motores de impulso e quase fez a nave partir-se ao meio para que ela começasse a subir. A nave forasteira também tentou mudar seu curso, mas eles já tinham passado de seu ponto de não retorno e mesmo tentando subir com todas as suas forças, sua nave continuou a cair. Jill estava quase soltando um grito de comemoração por ter os feito caírem em sua manobra quando a nave forasteira prendeu a Queen Elizabeth em um raio trator, puxando-a com toda a força para baixo. - Não! – gritou Jill cheia de raiva. - Senhor, estamos presos no raio trator eles e não temos força suficiente no nosso para tentar repelir o deles – disse Kron. - Passamos quinze quilômetros do ponto de não retorno e continuamos descendo – informou Jill. - Dispare tudo o que temos neles, senhor Kron – ordenou Sam. Kron disparou os torpedos, mas eles não conseguiam ajustar sua trajetória para alcançar o alvo devido a alta velocidade e a resistência atmosférica, além disso, os phasers ainda estavam inoperantes. - Trinta e cinco quilômetros abaixo do ponto de não retorno – informou Juliet. - Senhor, se continuarmos baixando nosso casco irá ceder à pressão – alertou Kron. - Preciso de alternativas! – disse Sam, assustado por não conseguir enxergar solução para aquele problema, o que era realmente perturbador para ele. Em todas as suas missões anteriores, por mais difíceis que foram, ele sempre conseguiu encontrar uma forma de escapar, mas talvez aquele fosse o fim de uma batalha a muito perdida. Juliet teve uma ideia, mas de tão absurda que era hesitou em falar, não queria falar algo inútil naquele momento, mas ninguém mais teve nenhuma ideia e se iriam morrer não custaria nada tentar. - Senhor! –Juliet disse alto – Podemos ejetar nosso núcleo de dobra e detoná-lo em cima da nave forasteira. - O quê?! – disse Hal achando aquilo a pior ideia que já tinha ouvido. - A força da explosão do núcleo somada com a explosão da nave forasteira deverá produzir energia suficiente para nos lançar para fora da atmosfera ou pelo menos acima do ponto de não retorno suficiente para os propulsores nos tirarem da atmosfera! Senhor – ela disse tudo de uma vez e no final ficou sem fôlego. Um sorriso surgiu no rosto de Sam enquanto Hal ficou de boca aberta. - Ejetar núcleo de dobra, certifique-se de que ele exploda bem no traseiro deles! – ordenou Sam. - Sim senhor. Preparando para ejetar o núcleo de dobra e calculando o tempo necessário para que o campo de contenção seja desligado no momento certo – disse Tallan, orgulhoso de que sua habilidade em cálculos seria o responsável por salvar a nave. A Queen Elizabeth descia como âncora, a pressão externa estava aumentando e era possível escutar o casco da neve gemer. - Alerta: pressão externa excedendo níveis de segurança – alertou o computador. - Tenente... –disse Sam com pressa. - Só mais um momento... Pronto! Núcleo de dobra ejetado! – exclamou Tallan. Uma abertura no ventre da nave se abriu e o núcleo de dobra foi ejetado em direção da nave forasteira que os prendia com seu raio trator. As luzes da ponte ficaram mais fracas e a nave contava somente com a energia das baterias reservas. O enorme cilindro brilhante tocou na nave inimiga e nesse instante o campo de contenção foi desativado, a matéria e anti-matéria aniquilaram-se, consumindo a nave forasteira e junto com o núcleo dela formou-se uma gigantesca explosão que atingiu a Queen Elizabeth em poucos segundos. Uma forte luz branca surgiu no gigante gasoso, de seu interior uma nave era impulsionada e subia sua atmosfera como um foguete. Os que estavam na ponte se seguraram. Tudo balançava muito e a luz da explosão era forte mesmo através da tela principal. Quando eles finalmente deixaram a atmosfera, tudo parou de balançar e era possível escutar os ruídos normais da nave, todos olhavam uns para os outros para ter certeza de que tinham escapado. As estrelas brilhando na tela principal mostraram que não estavam mais nas entranhas do planeta. Contra todas as possibilidades, eles venceram. - Relatório – ordenou Sam, quebrando o silêncio. - Estamos somente com energia reserva suficiente para suporte de vida e navegação – informou Tallan. - Temos propulsores, sensores e sistemas de comunicação operantes – relatou Jill. - Merda, nunca mais meta-nos em uma situação como essa, Sam – reclamou Hal. Sam sorriu, sabia que Hal só xingava assim quando estavam fora de perigo e que ele tinha completado a missão. - Leme, trace uma rota para Rubic III, acho que o senhor Plumus poderá nos dar uma mãozinha depois de salvarmos o planeta dele – disse Sam. - Mesmo ele não sabendo disso – completou Hal. - Preferem ficar aqui? – como ninguém respondeu ele ordenou que seguissem para o planeta e que todos os reparos e substituição do núcleo de dobra começassem – E bom trabalho, tenente, sua ideia salvou o dia – disse ele para Juliet. A jovem tenente sorriu envergonhada enquanto Tallan ficou indignado por ela ter recebido a estirpe de “salvadora do dia” se foi ele quem ejetou o núcleo de dobra e fez todos os cálculos. Mas, guardou tudo para si, um dia teria o devido reconhecimento, deixaria a tenente desfrutar seu pequeno momento de glória. * Diário de bordo, data estelar 2410.0811. Estamos executando os reparos na nave após a difícil batalha com a nave pacificadora. Os danos são extensos e a Queen Elizabeth terá que voltar ao estaleiro logo após sua primeira missão, algo que eu realmente não gostaria que acontecesse. Mas, apesar disso, cumprimos nossa missão. Descobrimos quem era responsável pelos ataques às colônias e, talvez mais importante e assustador do que isso, descobrimos que os forasteiros podem estar infiltrados na Frota Estelar de uma forma quase imperceptível. As informações que temos podem ajudar a desmascarar uma invasão secreta, isso se pudermos confiar em alguém. Hal entrou no escritório de Sam, que terminara de anotar o diário de bordo. - Algum problema, Hal? - Nenhum, os reparos estão em andamento, creio que em dois dias o novo núcleo de dobra estará pronto e vamos poder voltar correndo deste meio de lugar nenhum. - Que bom, depois de tudo isso seria vergonhoso ter que pedir para que uma nave viesse nos rebocar. - E então, Sam, você resolveu o mistério, descobriu quem estava por detrás dos ataques e também quem era o agente infiltrado entre nós. Como se sente? - Não muito bem, Hal. Dessa vez a vitória tem um sabor diferente. - É por causa de Torek, não é? - Sim, não paro de pensar que tivemos muita sorte de não sermos destruídos por causa dele. Há algo muito ruim acontecendo, Hal. Os forasteiros sabiam que a Frota enviaria uma nave, sabiam que seríamos nós. Torek foi apenas uma salvaguarda para garantir que não retornássemos. Mas,o nível de sofisticação desse clone e o seu infiltramento mostram que a situação pode ser pior do que pensávamos. - O que faremos agora? Não podemos espalhar essa notícia de qualquer modo senão só irá causar pânico. - E também não sabemos em quem podemos confiar. É por isso que eu quero que todos os relatórios não contenham nada sobre o incidente Torek. - Como assim, Sam? - Não vamos deixar que eles saibam tudo o que temos. Vou fazer um relatório contendo todas as informações e irei enviá-lo para a capitão Diana Dahen e para o capitão Daniel Summers. - Vai envolver Summers nisso? - Se há alguém a quem podemos confiar é Summers. Se não conseguirmos retornar ele saberá o que fazer. - E então... primeira missão e a nave quase foi destruída, eu disse que não sei como a Frota te deu uma nave nova depois do que você fez com a última. - Deixe o passado no passado, meu bom amigo. - Nesse caso, que tal uma azulzinha? – disse Hal, tirando dois copos do bolso. Sam sorriu e tirou uma garrafa de cerveja romulana da gaveta de sua mesa, deixando Hal surpreso em ver aquela bebida ali. - Eu tenho um amigo que aprendeu umas coisas em Risa... Os dois riram e beberam juntos enquanto a Queen Elizabeth seguia sua viagem de volta, estando apenas no começo de suas aventuras.